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Pedaços do mundo e grãos de areia
Sobre a mesa está a miniatura de um Trabant, em escala 1 para 60, teto branco e carroçaria azul-celeste. Fabricado na ex-RDA, este foi o veículo mais popular nos países de leste, na fase final do bloco socialista. Andei duas ou três vezes num Trabant, um privilégio, com aquele motor que parecia de mota, o interior tosco, as mudanças de trator e o centro de gravidade tão baixo que tornava os camiões da estrada em monstros ameaçadores. Devia ter escrito sobre isso na altura, mas não o fiz, e tenho pena. As máquinas socialistas eram simples e podiam durar eternidades, mas o sistema ruiu quando as pessoas deixaram de acreditar nas mentiras do poder e começaram a sonhar com os produtos sofisticados do ocidente. Todos queriam ter um Volkswagen, nem que fosse importado e em segunda mão. Os Trabant foram para a sucata, embora muitos tenham circulado ainda outra década, pois os motores eram fáceis de reparar. Por cruel ironia, o brinquedo que comprei é made in China, o país que, entretanto, inundou a Europa de carros elétricos, iniciando porventura uma extinção industrial semelhante. Os automóveis europeus de agora serão em breve memórias simpáticas e carrinhos de brinquedo.