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Uma cultura alienígena

por Luís Naves, em 17.05.16

Existe nítido preconceito das elites nacionais contra o género da ficção-científica. As pessoas dizem que preferem o policial, por isso a FC chegou-nos sobretudo em livros de bolso mal traduzidos ou filmes e séries que por aqui foram sendo desvalorizados. Ainda me lembro da incompreensão que senti quando Blade Runner foi arrasado pelos nossos críticos de cinema da época. Era uma obra-prima, mas eles não conseguiam ver isso. Eu tinha razão, como provavelmente terei quando afirmo que Philip K. Dick foi um dos grandes da literatura do século XX, opinião que deixará perplexo qualquer português minimamente culto. A palavra ‘disparate’ será a primeira a surgir na sua mente. Outro exemplo: dizer que Jules Verne foi um dos grandes escritores do seu tempo será considerado entre nós um pouco atrevido.

O cinema no modelo de Hollywood* está em decadência e a televisão tende a ocupar o vazio, com séries que tentam chegar a audiências cada vez mais fragmentadas. Triunfa a boutique cultural, baseada na qualidade e na originalidade, enfim, na diferença face aos monstros californianos, onde se enterram fortunas e onde raramente se encontra uma boa ideia. Godzilla enfrenta predadores flexíveis, é provável que perca a corrida evolutiva.

A televisão que nos chega, sobretudo dos EUA, está repleta de séries de ficção-científica, algumas das quais têm alta qualidade. Por aqui, ainda há confusão entre FC e fantasia, género em ascensão que tem escassa relação com a verosimilhança e nenhuma preocupação com a ciência ou a actualidade. A FC baseia-se no realismo e discute o presente e as suas mudanças: a natureza da realidade, a consciência artificial ou a modificação dos seres humanos. Não há feitiçaria nem batalhas medievais, é tudo materialista, sem espíritos e deuses.

 

* Apesar da minha desconfiança em relação à Hollywood contemporânea, vi recentemente um óptimo filme de FC, Ex Machina. Porque é que é bom? Apostou nas ideias e na simplicidade.

publicado às 10:56

Mr. Spock

por Luís Naves, em 27.02.15

Devo ter visto Star Trek ainda criança, numa velha televisão a preto e branco. Li algures que, nos primeiros episódios, as portas se abriam porque alguém puxava uma corda: criava-se assim a ilusão do automatismo e dos sensores. Esta é a matéria com que se fabricam lendas, neste caso com planetas estranhos que pareciam globos iluminados flutuando sobre veludo escuro, um mosaico de rivalidades e perigos, de colónias e impérios ameaçadores. Quem pode esquecer os phasers que pareciam modernas armas para derrubar assaltantes ou os comunicadores quase iguais a telemóveis? E quem pode esquecer a língua gutural dos agressivos klingon (ou a língua deles só apareceu nos filmes)?

Enfim, não posso afirmar que Kirk seja a personagem fraca do duo, o exagero da agitação à beira da catástrofe, o que só se evitava com ajuda dos argumentistas, mas preferi sempre mister Spock, que era o vulcano educado, apesar das suas conversas não serem divertidas, apesar das orelhas pontiagudas que não serviam para nada e o ar cabeçudo, por vezes até um pouco teimoso. Em Star Trek não havia apenas coloridos uniformes futuristas, mas também um vislumbre das nossas ambições: a espécie humana a liderar vulcanos tão inteligentes, essa sim, a parte menos credível. Ele, o número dois, era a personagem fascinante: o imediato da Enterprise e oficial da federação desprovido de emoções, capaz de analisar cada problema das aventuras espaciais com o simples uso da lógica.

O actor Leonard Nimoy foi sempre o único Spock possível, porventura o melhor extraterrestre quase humano entre todos os que foram imaginados. Nimoy faleceu ontem em Hollywood, a cidade das estrelas, e partiu em warp nine para outras viagens.

publicado às 20:05

Futuro risonho

por Luís Naves, em 22.01.15

As reflexões sobre o futuro são sempre interessantes, mas a ideia é falhar as previsões. No melhor plano cai a nódoa, podíamos dizer, e quando olhamos para a maneira como os antigos viam o futuro, encontramos sobretudo visões exageradas daquilo que era então o presente. Os países são os mesmos, embora maiores e mais fortes. Há comboios e prédios, mas maiores e mais fortes. Neste site inesgotável, Paleofuture, não há falta de exemplos de futuros não concretizados, de ideias estrambólicas, de fantasias que nos fazem rir, de futuros utópicos com estrutura social de antigamente. Há jornais falantes, comboios eléctricos, bases marcianas, projecções de parede, máquinas ululantes, carros voadores, fatos indestrutíveis, transportes suspensos, fábricas imaculadas, colónias espaciais, aventureiros de maneiras impecáveis, senhoras com saia longa, maquinetas anfíbias, cozinhas automáticas, luzes da ribalta, arranha-céus nas nuvens, comida congelada, polícias em motocicleta, aviões bombardeiros, imensas loucuras, muito delírio, algum humor. Quando imaginamos o futuro parecemos o peru mencionado em Cisne Negro, um livro curiosíssimo de Nassim Nicolas Taleb, sobre os eventos fora da norma, sobretudo financeiros. Numa metáfora divertida, o autor explicou que o peru anda sempre super-feliz, a engordar regularmente, numa situação que, com base na sua experiência passada, apresenta excelentes perspectivas de futuro: a comida chega ao prato a tempo e horas, ninguém obriga a trabalhar, o peso aumenta a 50% ao ano, o dono está satisfeito e diz que tem o melhor peru da aldeia. O futuro é extremamente risonho.

 

Em Paleofuture encontra-se a excelente notícia de que nos EUA foi adaptado à televisão o romance de Philip K. Dick, O Homem do Castelo Alto, e parece que valeu a pena esperar...

publicado às 11:50

Gotham

por Luís Naves, em 09.12.14

Nos primeiros episódios da série de televisão Gotham é recriado o universo de Batman, mas antes desta personagem ser adulta. A cidade imaginária (o nome gótico é magnífico) parece Nova Iorque, mas deformada e turva, dominada pela corrupção e pelo crime organizado, numa espécie de luta exacerbada entre o bem e o mal ou numa fantasia de capitalismo selvagem onde grandes corporações se impõem no pântano da ganância. A arte nunca é politicamente neutra e aqui coexistem várias ideias extremistas, da legitimação da violência sem justiça ao anti-capitalismo primário, passando pela noção populista de que toda a política é iminentemente corrupta. Na galeria de personagens encontramos um desfile de psicopatas e outros alucinados sem pinga de humanidade. Por vezes, são mesmo caricaturas de seres humanos, com referências animalescas pelo meio. E, no entanto, com toda esta ideologia e perversidade, a série tem carisma. A violência extrema torna-se kitsch e até previsível. As personagens têm qualquer coisa de infantil e, por vezes, surgem grandes frases. Don Falcone dizia, a certo ponto, que “não se pode ter crime organizado sem lei e ordem”. Uma cidade não conseguiria ter a dimensão de Gotham se tudo fosse apenas falhanço institucional.

publicado às 19:29

Lisboa em 2100: Uma Reportagem (5)

por Luís Naves, em 21.11.13

 

Os profetas são apenas vento *

Os lobos são hoje simples curiosidades amansadas, mas dizem as crónicas que no passado eram animais ferozes e indomáveis. Na sua alma selvagem havia uma parte que os humanos invejavam, que era a impiedade natural. Foi isso que sobrou deles, o que lhes foi arrancado ao coração e que passou para alguns de nós. No deserto de cimento e mármore, vogam hoje caçadores indomesticados e brutais, matilhas que há muito perderam a humanidade. Do outro lado, estão as vítimas, a esmagadora maioria destes seres que, sem saber, andam à deriva.

Aqui em baixo, nesta parte da cidade onde me encontro, vejo sobretudo as ovelhas: as legiões de desocupados, os clubes onde se mata o tédio com bebida, as almas vazias e os dias intermináveis. Lisboa, imensa nas suas multidões, podia chamar-se solidão e engano.

É fácil caluniar e ofender estes indefesos e humilhados. Faz parte da caça. Vejo aqui abutres que se alimentam da carne inactiva: os gananciosos e os usurários, os que se vendem por um punhado de nada, os avarentos que se agarram freneticamente ao entulho, os mentirosos que ainda acreditam no que dizem. São esses os verdadeiros pobres de espírito, os miseráveis e dignos de pena. Vejo os estúpidos que sonham com o poder e, lá em cima, os que têm poder e se riem deles. Vejo os velhacos de emboscada, os que juraram destruir-me a mim também.

Lisboa é luz e desejo, é ansiedade e fome, inveja e cobiça, uma espécie de morte no meio da perda. Lisboa é o futuro prometido, uma miragem e uma cegueira. É isso que vejo, mas as profecias são apenas vento e aquilo que somos não é mais do que poeira viva, embora à espera do desenlace.

 

publicado às 20:40

Lisboa em 2100: Uma Reportagem (4)

por Luís Naves, em 20.11.13


Carrego a vergonha da minha juventude *
Na larga extensão de terreno vejo apenas as cores fortes e as formas estranhas dos edifícios. Todos têm largas superfícies envidraçadas e parecem bonecos de plástico que uma criança abandonou caoticamente no chão do quarto. Por vezes, torna-se quase enjoativo o efeito do contraste entre carmim, açafrão, ocre, azul-cobalto. Os prédios estendem-se ao longo de avenidas intermináveis, como se fossem sequências diferentes das mesmas proteínas. Nesta zona da cidade há centenas de empresas, na sua maioria estrangeiras, mas não vejo árvores ou qualquer sinal da natureza. O futuro que aqui se constrói será um mundo de vida artificial.
   A julgar pelo que vejo, Lisboa já entrou no século XXII. A empresa de onde saio, chamada Genoma Sintético, produz pessoas melhoradas, mas é quase inteiramente robotizada, tirando o departamento de engenharia, onde trabalham cientistas com ar de monges, numa atmosfera de reclusão e silêncio.
   Nas caves dos andares inferiores, os laboratórios são controlados por máquinas, algumas das quais lembram vagamente formas humanas e, segundo me disseram, algumas das quais escondem, atrás das placas de materiais rígidos, componentes orgânicos sofisticados que melhoram a sua inteligência artificial. Os olhos são metade biológicos, metade máquina; os cérebros têm tecidos com ADN desenvolvido por computador e adaptado às funções. Destes laboratórios, foi-me permitido vislumbrar uma parte minúscula e não tive qualquer acesso às áreas restritas. Perguntei o que se fabricava ali e disseram-me para não me inquietar, pois “fabrica-se mais do mesmo”.
   O ‘mais do mesmo’ está numa espécie de museu que ocupa o andar térreo da sede da empresa. A sala foi iluminada de forma a criar zonas de penumbra que dirigem o olhar do visitante para os tanques de líquido e para os triunfos científicos que se encontram no seu interior. A minha guia diz chamar-se Andreia. É uma mulher espantosamente bela, que usa um vestido antiquado e transparente, de extremo bom gosto, julgo que de meados do século.


 

publicado às 17:18

Lisboa em 2100: Uma Reportagem (3)

por Luís Naves, em 11.11.13

Este povo tem um coração indócil e rebelde
O velho aeroporto deixou de ser necessário na década de 30, mas continuou a funcionar durante anos, recebendo os aviões a jacto que as frotas de transportes mantiveram até meados do século. Depois, não houve dinheiro para construções e aquele imenso espaço foi abandonado progressivamente pelo Governo; ao mesmo tempo, foi sendo ocupado por multidões de comerciantes informais. O antigo aeroporto, designação que muitos ainda utilizam, tornou-se obsoleto e transformou-se numa vasta zona comercial sem regras aparentes e onde tudo se vende e tudo se compra. O povo, aqui, é diferente do que existe no resto da cidade: há mongóis, negros, indianos, mil línguas distintas, numa babel a perder de vista.
O mercado da Portela tem cinco quilómetros de comprimento e três de largura. Terá mais de dez mil pequenos comércios, mal iluminados e por vezes sujos, alguns com pequenos tesouros no interior. É um labirinto de ruas e avenidas que formam quadriláteros imperfeitos, onde se dispõem as vendas individuais. Paga-se pouco (não consegui saber a quem) para montar aqui uma barraca com produtos. Ninguém paga impostos. Isto é duty-free (como existia no velho aeroporto, segundo rezam as crónicas) mas agora está à disposição de quem não deseje viajar mais do que uma caminhada. Segundo alguns, também há negócios antiquados de off-shore e de hawalla, mas pode ser fantasia.

 

publicado às 17:39

Lisboa em 2100: Uma Reportagem (2)

por Luís Naves, em 09.11.13


Eu tomar-vos-ei como um peso
As torres de cristal estendem-se na distância e aumentam o brilho da atmosfera cintilante, mas nesta parte da cidade podemos encontrar ainda os vestígios dos antigos jardins públicos e dos bairros com mais de um século, de prédios com três ou quatro pisos e grandes apartamentos de duas assoalhadas, amplos pátios de dez metros em frente à entrada. Para nós parece um desperdício de espaço, mas que diriam hoje os nossos avós, perante a urbanização total e as vastidões abandonadas que deixámos entre as cidades?


É ao fundo deste velho bairro (teve outrora o nome de Barreiro) que encontramos as novíssimas instalações do Instituto da Longa Vida, uma unidade governamental que promove o bem-estar dos cidadãos com mais de 120 anos. Não há janelas e o interior tem todos os modernos confortos permitidos pela tecnologia. “O custo não foi muito elevado”, afirma A. Santos, o director desta unidade, que serve uma população de cem mil habitantes. Estão aqui 2500 idosos, o que não chega para as necessidades. Dormem em cubículos espaçosos e têm locais de convívio e uma cantina com excelentes condições. Nas ilusões virtuais, este instituto ainda não dispõe de todas as novidades produzidas na América: “Foi impossível comprar o último grito”, explica o director Santos, “mas poderemos fazer um esforço, se o próximo orçamento autárquico o permitir”.
O autarca F. Manuel, que está ao seu lado, acena com a cabeça, num gesto de concordância: “Podia ser melhor, claro, mas esta é sobretudo uma questão política”. Os subsidiados pelo Estado perderam o direito de votar nos referendos que se realizam semanalmente e este tipo de construção pública tornou-se obrigatório desde que no ano passado os portugueses votaram a favor do internamento de todos os cidadãos com mais de 120 anos. Calcula-se que nos próximos anos serão construídas pelo menos mais cem unidades iguais a esta, para alojar os 250 mil cidadãos nascidos antes de 1980.


 

 

publicado às 19:26

Lisboa em 2100: Uma Reportagem (1)

por Luís Naves, em 03.11.13

1
Não haverá quem os sepulte
Na cidade interminável lutam duas forças opostas, uma que empurra para o alto e outra para as catacumbas de um mundo escondido da civilização. Podemos dispor de breves relances dessa realidade oculta, mas não devemos ter a pretensão de compreender os fantasmas que povoam o submundo. O que se segue são meras impressões, uma história incompleta, um vislumbre.
   O homem tem barba comprida, olhar furtivo, parece um ser algo selvagem, que fala de forma incompleta, numa linguagem que é só sua. Diz que se chama Chico Só, mas não sei se o só é um nome ou um atributo que carrega como distintivo. Diz-me que vive nas catacumbas há pelo menos dez anos e pergunto-lhe com que regularidade costuma ver a luz lá de cima. “Não vejo”, responde-me, “Nunca vou lá acima”.
   Creio que este homem não ficaria cego se visse de novo a luz solar. As catacumbas são iluminadas e há até zonas onde a luminosidade é regulada, simulando o dia e a noite. Este é um mundo inteiramente ligado à cidade da superfície, mas que tende a penetrar no interior da terra, a organizar-se de cima para baixo, como se fosse um caminho que se afunda.
   Entrei nestes corredores labirínticos na companhia dos voluntários de uma instituição humanitária, a Esperança, uma das muitas que operam nestes sectores esquecidos da sociedade. A polícia não entra aqui e são necessárias autorizações especiais até para os voluntários, pois cada camada tem os próprios códigos e organização. A parte subterrânea onde nos encontramos corresponde a um gigantesco parque de estacionamento construído nos anos 20 e que tinha sete andares. Os voluntários não podem ir mais fundo do que o terceiro andar e foi aqui que encontrámos este homem sem destino, que se diz chamar Chico Só e que nos conta a sua história.


 

 

publicado às 19:44

Um pouco de crítica literária

por Luís Naves, em 24.08.13

Foram publicados na capital do império Klingon alguns clássicos da literatura terrestre. A iniciativa inédita da editora ‘A Palavra é um Chicote’ de traduzir para Klingon os melhores livros do planeta Terra, por enquanto limitada a seis volumes, causou uma pequena sensação nos meios culturais. Os livros terrestres têm merecido recensões nos principais jornais klingonenses. Damos conta de vários excertos das críticas publicadas:

 

A Bíblia
“Livro fastidioso e confuso, com cenas interessantes, por exemplo, a destruição de Sodoma e Gomorra. (…) Esta obra arrasta-se penosamente e os terrestres imaginam um Deus que faz lembrar o nosso Krelkarrar (…) Algumas personagens são sólidas, como Moisés ou o apóstolo Paulo, mas a figura central, um tal Cristo, recusa-se a incinerar os israelitas mais indisciplinados (…) Sinceramente, fiquei intrigado ao saber que este livro é muito apreciado no planeta Terra”.

 

D. Quixote
“A história de um guerreiro que se comporta como um palerma, atacando turbinas movidas a vento. Esta obra vale pela personagem de Sancho Pança, um humano sem teias de aranha na cabeça, que conhece bem as regras da fidelidade e do sacrifício. Este Pança, apesar de tudo, parece estar em má forma física e revela alguma preguiça, que uma rápida consulta da klingopedia demonstra ser uma das principais características dos terrestres”.

 

Ana Karenina
“Na literatura terrestre parece existir uma obsessão pelo sexo feminino, o que não passará de enorme desperdício de papel. É o caso deste Ana Karenina, a história de uma fêmea humana que não sabe o lugar que ocupa. O livro arrasta-se com enormes dificuldades através de uma floresta das chamadas ‘paixões’, palavra sem tradução para Klingon, mas que estará relacionada com aceleração cardíaca, febre, transpiração e dilatação das pupilas, ou seja, uma espécie de constipação. A personagem principal deste livro é, felizmente, atropelada por um comboio”.

 

O Processo
“Livro sobre um personagem chamado senhor K. que é alvo de um processo judicial. Trata-se de uma obra intrigante, que roda permanentemente em torno da circunstância de K. não conhecer a acusação do processo. Lemos este romance com certa estupefacção, interrogando-nos a cada página qual seria o problema, pois teria de haver outro motivo mais sério para criar a intriga. Não havia, era mesmo aquilo. Qualquer réu que se preze sabe que nunca há inocentes. Era só o que faltava, agora, os arguidos conhecerem a natureza dos seus crimes. Não haveria administração de justiça. É evidente para qualquer leitor que K. deve ser condenado, pois se existe processo, alguma coisa fez. Por isso, apreciámos o final mais do que justo”.

 

Os Miseráveis
"A figura central deste romance é um humano de grande estatura que não cumpre a pena a que foi condenado e tenta escapar de um polícia que o identifica. O enfoque do romance devia estar no agente da autoridade, que persegue corajosamente o foragido da justiça, mas por razões que desconhecemos o autor preferiu centrar-se no condenado, a ponto de termos uma suspeita de que o escritor terrestre, chamado Victor Hugo, estava na realidade a defender a possibilidade de um foragido reconstruir a sua existência no seio da sociedade. Uma ideia absurda, naturalmente".

 

Peregrinação
"Entre os terrestres havia uma facção entretanto quase extinta, os portugueses, que terá conquistado partes do planeta Terra num período anterior da história humana. Se este grupo tivesse hoje maior importância, o império Klingon poderia estar em grandes dificuldades, pois segundo se conta neste livro os portugueses tinham uma actuação muito semelhante aos bandos dos nossos adolescentes. Daí que este livro seja de leitura recomendada, excepto os últimos capítulos, onde o autor começa a delirar com conceitos morais de duvidosa utilidade, o que talvez explique a posterior quase extinção da facção dos portugueses".

publicado às 13:59


Autores

João Villalobos e Luís Naves