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Realidades paralelas

por Luís Naves, em 10.06.23

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Costumava existir separação nítida entre realidade e imaginação. Havia o mundo dos factos e havia o mundo da fantasia, e os dois não se misturavam, eram como a água e o azeite. Na Era em que vivemos já não é assim. As notícias assumem narrativas e têm dificuldade em aceitar os próprios factos, tendem a criar realidades parcialmente ficcionadas, baseadas naquilo que desejamos ver. Os escritores, que se dedicavam a imaginar irrealidades desconfortáveis, agora só são publicados se não contarem histórias, só são publicados se escreverem crónicas pessoais, construídas com as mil banalidades da existência e separadas da fantasia. Nas notícias meio-inventadas, tornou-se difícil distinguir o falso do verdadeiro; na literatura os escritores praticam a autoficção e o enredo verídico, portanto, sem grande lugar para a invenção. Os noticiários moralizam constantemente: a actualidade é maniqueísta, o bem contra o mal. Por seu lado, a literatura tornou-se didáctica e militante, também repleta de crenças de bem contra o mal. O jornalismo, que devia tratar de factos, tem horror da realidade; a literatura, que devia tratar da imaginação, aterroriza-se com a sua natureza.

publicado às 11:08


1 comentário

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De Ricardo A a 10.06.2023 às 12:41

SINOPSE ao livro A Civilização do Espectáculo(do meu post com o mesmo nome no blog novo mundo- Uma duríssima radiografia do nosso tempo e da nossa cultura, pelo olhar inconformista de Mario Vargas Llosa. A banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política são sintomas de um mal maior que afeta a sociedade contemporânea: a ideia temerária de converter em bem supremo a nossa natural propensão para nos divertirmos. No passado, a cultura foi uma espécie de consciência que impedia o virar as costas à realidade. Agora, atua como mecanismo de distração e entretenimento. A figura do intelectual, que estruturou todo o século XX, desapareceu do debate público. Ainda que alguns assinem manifestos e participem em polémicas, o certo é que a sua repercussão na sociedade é mínima. Conscientes desta situação, muitos optaram pelo silêncio. A cultura deveria preencher o vazio que a religião ocupava outrora(no Ocidente).Mas é impossível que isso aconteça se a cultura(no seu sentido mais estruturante),atraiçoando essa responsabilidade,se orienta decididamente para a facilidade,evita os problemas mais urgentes e se torna mero entretenimento.

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Autores

João Villalobos e Luís Naves