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Os abismos da memória

por Luís Naves, em 15.12.24

Vivi muita coisa, mas preciso de esforço para me lembrar dos principais momentos. Tenho péssima vocação para recordar coisas e nomes, o que tento compensar com certa fantasia, a ponto de não saber se vivi aquilo que tento memorizar ou se embelezo os factos. Devia talvez ter registado tudo. Os livros que me passaram pelas mãos e as aventuras em que estive metido, algumas coisas que li e, entretanto, se evaporaram, pois retenho apenas farrapos daquilo que aprendo. Sempre gostei de notícias, mas um bom jornalista não se pode esquecer de informação importante nem baralhar cronologias, um escritor pode. Não sei ao certo o que pensar disto, estou farto de política e da minha pequena coleção de recordações anacrónicas, que vou juntando nos baús da memória, ou do tom tão factual destes apontamentos diários, onde raramente me encontro. Devia porventura escrever mais sobre mim, mudar um pouco o registo destas observações, colocar mais gente aqui dentro, registar vivências. Falar do tempo, do Natal que se aproxima, das ilusões dos meus contemporâneos e das minhas deambulações em pensamento, das quais não haverá rasto.

publicado às 17:52



Autores

João Villalobos e Luís Naves