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Pedaços do mundo e grãos de areia
Não vale a pena fazer previsões sobre o mundo, as coisas acontecem por acumulação de acasos improváveis e o futuro é tanto mais diferente de hoje quanto mais se avança no tempo. Apesar destas cautelas, é impossível ignorar o nervosismo geral das pessoas, como se houvesse uma inquietação qualquer nos espíritos, um sobressalto que ninguém consegue definir bem, mas que eventualmente funciona como as revoadas dos pássaros, desencadeadas sabe-se lá porquê. O mundo parece tranquilo, mas só por fora. Lá dentro, cresce o rumor de um magma zangado, prestes a libertar as suas fúrias. Os sinais do desassossego estão por todo o lado, no salve-se quem puder do frenesim público, na profunda hipocrisia dos privilegiados que se recusam a ver os erros das suas construções frágeis, no descontentamento de uma multidão amarfanhada e pessimista, onde não se vislumbram sorrisos. Há pelo ar uma espécie de violência, como se fosse eletricidade estática. E pergunto: não é sempre assim antes dos grandes tumultos e das grandes mudanças, quando a emulsão da sociedade começa a deslassar?