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Pedaços do mundo e grãos de areia
Quando o sistema mundial tem muitos protagonistas torna-se difícil manter a estabilidade das alianças e gerir a ascensão ou o declínio relativo de uns e outros. Foi o que aconteceu nas duas décadas anteriores à Primeira Guerra Mundial, quando os impérios europeus estavam fragmentados em cinco potências principais (Grã-Bretanha, França, Rússia, Alemanha e Áustria-Hungria) e surgiam novos poderes ambiciosos (EUA e Japão), enquanto outros se debatiam com a consciência do declínio acentuado (Império Otomano e Itália). Na altura, havia nove actores principais, uma multidão. Depois da guerra, o cenário mudou, com a subida rápida dos EUA e a recuperação meteórica da Alemanha. Nos anos 30, havia quatro potências europeias, cinco se contássemos a Itália, mais a América e o Japão, o que dava sete, criando um conjunto ainda muito instável.
A Guerra Fria simplificou o cenário, mas progressivamente ascenderam novas potências, sobretudo Europa, Japão e China, mas igualmente outras com ambições, embora mais modestas, como Irão, Índia ou Brasil. O facto é que neste momento o sistema internacional tem excesso de participantes, pelo menos cinco principais e três secundários. Não há recursos para todos e alguns vão entrar em declínio e alta ansiedade. Para evitar a decadência, a Europa vai provavelmente acelerar a integração, porventura sem o Reino Unido. O Japão parece ter entrado num confortável ocaso, a China continua a ganhar dimensão, a Índia tem decepcionado. EUA, Europa e Japão são aliados firmes e formam um bloco poderosíssimo. Rússia e China tendem a ficar do mesmo lado, mas isso nunca é assim tão líquido. Há outras potências emergentes, (Índia, Brasil ou Irão), mas julgo que tudo isto somado aponta para um mundo instável, onde os conflitos serão cada vez mais complicados.