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Pedaços do mundo e grãos de areia
Como no verso de Camões, "os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos" e parece uma fatalidade que durante algum tempo triunfem os cruéis, pois sem isso não haveria o impulso de fazer o bem, de escolher o melhor lado na nossa vida, de optar pela desistência das mundanidades que nos levam pelos caminhos errados do tal mar das falsas delícias. No fundo, a malvadez resulta em bens de fortuna, mas também na ilusão da felicidade, pois ninguém pode anular a sua consciência, pelo que a perversidade que se distribui aos outros deve queimar por dentro, nem que seja um pouco, à maneira da comichão em maré alta, que se torna um tormento. Conheci pessoas francamente más, felizmente não muitas. Estão sempre sozinhas, amargas, fingem que são felizes, aliás, odeiam a felicidade dos outros, pois as vítimas encontram maneira de escapar à opressão, um milímetro de cada vez. As benesses que se tiram de tiranizar os semelhantes são simples miragens: o mar de contentamentos é um deserto.