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Pedaços do mundo e grãos de areia
O País das indignações de sofá saiu hoje em defesa da vida virtual. Isabel Jonet, uma pessoa que trabalha com pobres, reconheceu numa entrevista que muitos desempregados se agarram excessivamente às redes sociais, passando ali demasiado do seu tempo, entre ilusões e pseudo-amigos. Esta opinião polémica devia fazer-nos reflectir, mas causou furor e raiva, motivando a revolta de muitos e a excitação de outros. A irritabilidade bem-pensante de uma certa elite é um dos elementos mais reveladores da doença social que tenho tentado abordar nos meus textos recentes: refiro-me ao desfasamento entre a vida real e o País mediático, que é cada vez mais notório, pois as elites já vivem de facto no facebook, nas suas festas irreais, na sua existência perfeita e protegida, na sua revolta pedante.
Por isso, o desemprego é uma mera abstracção, da qual se fala com spleen e enfado; os desempregados são seres distantes, e bem podem passar o seu tempo a trocar receitas, discutir o sexo dos anjos ou a escrever posts inflamados contra o Governo. Isabel Jonet recomenda que procurem o voluntariado? Pois isso é um horror social. Ela alerta para a existência de um problema social mais fundo e que não se percebe nas estatísticas? Pois, isso não importa nada. Queremos a espuma.
Os simplistas desconhecem que um dos maiores problemas pessoais de um desempregado é a perda da sua auto-estima, o perverso sentimento de vexame que o faz cair facilmente numa sedutora ilusão da passagem do tempo. No Facebook, onde todos os seus amigos desconhecidos são tão maravilhosos, é exactamente a auto-estima o que ele irá perder mais depressa.