Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Escritor de província

por Luís Naves, em 29.11.24

Sou agora escritor de província. Isolado, desconhecido, livre. Tudo aquilo que escrever será ignorado e não tenho ilusões sobre isso. Talvez publique, mas serei invisível, exterior ao sistema do negócio, das entrevistas e do reconhecimento público. Escrevo fora dos temas da moda, longe da intenção de agradar a críticos ou elites intelectuais, que na melhor das hipóteses poderão deitar um olhar complacente sobre os meus livros (embora isso seja improvável). O escritor provinciano tem vantagens: usa melhor o tempo, não se distrai com a fama, vive tanto quanto escreve, não necessita de horários nem de comparecer em tertúlias e de conhecer gente importante, não precisa de rede de contactos ou agentes, pode explorar o lado espontâneo, ignorar convenções, academias, o mundo, as linguagens que não são as suas, esquecer as mágoas citadinas. O artífice distante pode privilegiar as personagens familiares e concentrar-se na fantasia e nas paisagens interiores, que na sua imaginação se transformam em serras e campos, regatos de água límpida, bosques e montanhas com neve, habitados por camponeses bisonhos e talvez extintos, quem sabe?

publicado às 21:23



Autores

João Villalobos e Luís Naves