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Enfrentar os índios

por Luís Naves, em 22.02.17

Não é fácil entender o mundo contemporâneo e a vaga de mudança política nos países mais ricos do mundo sem considerar que há duas ideias incompatíveis em confronto. Um dos lados da barricada pensa que a civilização ocidental é um fracasso e deve reconhecer os seus erros históricos e mudar de práticas; a outra olha para os conflitos mundiais como parte de um choque de civilizações, onde culturas bárbaras ameaçam suplantar as avançadas. No fundo, ambos pensam que não existe lei do progresso e ambos consideram que somos testemunhas de um declínio da modernidade. A esquerda acredita que o cristianismo é totalitário e que o capitalismo leva os países para a escravatura e o império. A direita acredita que o Ocidente se encontra em perigo iminente e defende o reforço da identidade como única saída para travar os processos de decadência. A fronteira é o primeiro campo de batalha desta guerra de culturas, pois define o espaço em que as pessoas se incluem. É por isso que as migrações são o grande tema das campanhas políticas, pois tocam no nervo das opções da sociedade. Os argumentos mais acesos, por exemplo, sobre as decisões da nova administração americana ou nas campanhas eleitorais europeias em 2017 e 2018, giram em torno do choque de civilizações ou da culpa do Ocidente e têm geralmente relação directa com a questão da identidade. As elites discordam dos seus compatriotas descontentes, os meios de comunicação recusam-se discutir o tema, as nações resistem, a globalização está a mudar de forma, reduzindo-se entre espaços que se consideram distintos, acelerando nos territórios que se reconhecem da mesma ordem. A parte mais irónica é que a ideia da dissolução do Ocidente criou uma resposta que nos conduz a futuros mecanismos de alianças de civilizações. Lembram-se do livro de Samuel Huntington que popularizou a noção de ‘choque de civilizações‘? É curioso, mas está lá tudo, os problemas de identidade, as migrações, as prováveis alianças, a ameaça do extremismo islâmico, o Ocidente no auge do seu poder e a enfrentar os índios.

publicado às 19:17


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Autores

João Villalobos e Luís Naves