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Das minorias

por Luís Naves, em 01.09.18

Basta ler qualquer autor centro-europeu da primeira metade do século para se perceber que o mundo do presente nem sempre é uma melhoria em relação ao do passado. A sociedade austro-húngara era multicultural e desapareceu no tempo do diabo esfregar o olho. O argumento que justificou desmembrar o império austro-húngaro foi a necessidade de criar territórios sem as chamadas quintas-colunas das minorias, por isso os Tratados de Versalhes e Trianon (impostos pelos vencedores da I Guerra Mundial) deram origem a processos de limpeza étnica de grande violência. Nos anos 20 e 30, desenvolveram-se ideologias de exclusividade racial e nacional que originaram catástrofes. Nos últimos cem anos, os países que se formaram no antigo império lutaram pela homogeneidade cultural e étnica, mas agora são acusados de desvio nacionalista sobretudo aqueles que já nasceram homogéneos contra a sua própria vontade. É uma ironia cruel. Durante o império, havia nas mesmas localidades populações sérvias, ciganas, húngaras, alemãs ou judias, ou outra qualquer combinação de cinco ou seis línguas e três religiões, mas nesse tempo as pessoas viviam em tranquilidade. O desmembramento do império serviu sobretudo as elites nacionais que, antes, teriam menos hipóteses de ascender ao poder. As expulsões das culturas erradas duraram duas gerações e decorrem ainda, sobretudo por emigração, pois não desapareceu o impulso de discriminar minorias. Entretanto, no resto da Europa, quando hoje se fala nas vantagens do multiculturalismo, isso significa aceitar culturas não europeias e considera-se irrelevante a continuação da discriminação política ou cultural dessas minorias internas, as que ficaram do lado errado das novas fronteiras e que continuam a resistir à assimilação. Há também o curioso caso dos migrantes dentro do mesmo país, cuja aceitação nunca foi fácil, sendo o caso catalão o mais evidente.

publicado às 12:19



Autores

João Villalobos e Luís Naves