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Coisas ultra-modernas

por Luís Naves, em 21.07.18

Vladimir Nabokov antecipou o triunfo geral da banalidade e do mau gosto, do moralismo e do lugar comum. Estes eram alguns dos elementos que ele detestava na literatura do seu tempo e que encontramos de maneira abundante na nossa época: a simplificação excessiva, o pedantismo, numa palavra o «fake» (uso a expressão inglesa por ser melhor do que falso, com sentido mais subtil, que tem a ver com a falta de sinceridade e a aparência enganadora das coisas). Os nossos tempos são como a literatura que Nabokov detestava: tudo bonitinho, com falsa poesia, sem autenticidade, embrulhado em belas frases. Gostamos de coisas moralistas, politicamente corretas e suficientemente hipócritas para manterem sempre certa leveza inócua. Somos pela verborreia sentenciosa, a pompa vazia, a ignorância atrevida. Raramente encontramos alguém que diga mesmo aquilo que pensa. Sebastian Knight, em particular, tem muitas pistas sobre a arte da literatura, no conceito de Nabokov, veja-se esta passagem, em que o narrador se refere a um poeta modernista russo: «o grosso da sua obra parece hoje tão fútil, tão falso, tão antiquado (as coisas ultra-modernas têm a estranha característica de envelhecerem muito mais depressa do que as outras)».

publicado às 19:59



Autores

João Villalobos e Luís Naves