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As trivialidades artificiais

por Luís Naves, em 06.12.22

Há numerosos temas para crónicas, mas preciso de me interrogar mais vezes nestas páginas soltas. Isto devia ser diferente. Escrevo demasiado sobre o que não me devia interessar. Nestes fragmentos há observações sobre a realidade, mas poucas personagens verídicas e escassas reflexões biográficas. O facto é que a minha biografia é de pobre, portanto nunca acontece nada, e a ausência de personagens explica-se pela relativa solidão. Ando a ler excesso de notícias e, sabendo que devo limitar o consumo de atualidades, aquilo funciona como uma espécie de droga dura. É difícil deixar o vício e, no entanto, devia ser fácil, nem que fosse pela circunstância de muito do que leio ser manipulado (e farto de saber que leio textos desonestos). O ambiente das discussões públicas é tóxico e intolerante, o que parece paradoxal: vivemos num mundo pós-ideológico que perdeu as referências morais, mas nestas bolhas mediáticas existe máxima intransigência sobre assuntos irrelevantes. O fanatismo religioso ou político de outros tempos revive agora nas pequenas trivialidades artificiais. De resto, triunfa a mesma estupidez e falta de escrúpulos própria dos tempos de trevas. As discussões decorrem entre limbo e purgatório, no quentinho dos sofás.

publicado às 13:41



Autores

João Villalobos e Luís Naves