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As próximas eleições (5)

por Luís Naves, em 15.05.14

Os candidatos a presidente da comissão mostram poucas divergências em relação às políticas que efectivamente vão influenciar, como união bancária ou austeridade, o que significa que apoiam a actual estratégia para controlar a crise das dívidas soberanas: socialistas e conservadores pretendem manter o rumo na consolidação das contas públicas e no avanço da união bancária.

As divergências são subtis. Os conservadores estão pouco entusiasmados com a ideia de combater paraísos fiscais, mas nas suas declarações dão uma no cravo e outra na ferradura. Os liberais centristas (sem partido português) contestam a ideia de salário mínimo europeu e todos os candidatos sabem que a ideia de euro-obrigações (rejeitada apenas pela extrema-direita) permanecerá no papel.

Os verdes querem proibir os organismos geneticamente modificados e a exploração do gás de xisto, mas no final quem manda na UE é o Conselho Europeu, onde isto está longe de ser consensual. A esquerda comunista contesta o euro (de braço dado à extrema-direita e aos populistas eurocépticos) e nem quer ouvir falar em mais poderes para a comissão ou no acordo comercial com os EUA. Esta esquerda terá uma boa votação, graças ao voto de protesto dos muitos descrentes no projecto europeu.

 

 

O próximo parlamento terá mais vezes a aliança entre socialistas e conservadores, mas o bloco central é a melhor maneira de dar alguma razão aos extremos, que acusam o centrão de usar os cotovelos para reduzir o debate político. Os eurocépticos e populistas (de esquerda e direita) terão avanços, embora insuficientes para alterar as políticas europeias. No Reino Unido, França e Itália esperam-se grandes votações de protesto; na Grécia, Holanda e República Checa podem até vencer partidos eurocépticos; em outros países vão subir muito. No mínimo, estes grupos pretendem combater o statu quo e atrasar a integração.

A Europa avança assim aos soluços, com o eleitorado desconfiado em relação aos cortes na despesa que, para muitos europeus, parecem não fazer sentido. O défice democrático das instituições europeias é evidente, mas do outro lado da balança está o nacionalismo, um génio que quando sai da lâmpada dá origem a conflitos extremamente perigosos, como se vê na Ucrânia.

Os europeus não conseguem resolver os problemas da falta de crescimento e do desemprego elevado, estão a perder terreno para outros blocos económicos e têm enorme vulnerabilidade a crises financeiras externas, para não mencionar a óbvia fraqueza política perante a chantagem de países como a Rússia. Sim, podemos ser contra o euro, contra a austeridade e os burocratas de Bruxelas, contra o poder alemão e a imigração, a harmonização fiscal, o Tratado de Lisboa e a taxa sobre transacções financeiras, mas ninguém consegue formular uma alternativa séria a esta Europa.

Em Portugal, o debate europeu habituou-se a negar a realidade. A campanha, naturalmente, só piora a tendência: os candidatos falam de assuntos paroquiais, lançam farpas aos adversários e evitam dizer o que pensam, por exemplo, sobre o que deve a Europa fazer na crise da Ucrânia, se faz sentido dar mais poderes ao Parlamento Europeu, se as reuniões do Conselho devem ou não ser mais transparentes ou se faz sentido proteger a economia europeia da concorrência exterior. Mais soberania ou mais integração? Esta é a escolha que não iremos discutir.

 

 

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publicado às 13:08


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Autores

João Villalobos e Luís Naves