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Arte maquinal

por Luís Naves, em 07.10.24

Na escrita diária existe a grande ilusão de nos aproximarmos de alguma verdade, de uma qualquer essência que nos vai escapando. Tolstoi andou 15 anos a pensar no assunto, antes de escrever O Que É a Arte, onde consta uma ideia que tento resumir: a verdadeira arte causa forte impacto emocional no recetor, a ponto de este achar que a obra exprime exatamente aquilo que ele sempre quis transmitir. Existe, pois, uma apropriação da obra por parte de quem a recebe. O escritor russo achava que os bons artistas mostravam individualidade, clareza e sinceridade. A sua arte devia ser natural, simples e verdadeira, em oposição ao domínio do artificial, elaborado e falso. Estas ideias chocam com as teorias modernas, mas Tolstoi não apreciava obras demasiado complexas e que uma pessoa normal não poderia compreender, ou seja, tudo o que incluísse excesso de técnica ou artificialismo. Não sei o que pensar disto, a arte evolui, mas na música ou na literatura tendo a não gostar daquelas obras cerebrais, onde as emoções parecem saídas da fábrica e cujo autor se preocupou sobretudo em exibir a sua elevada capacidade técnica, sem golpes de asa ou os erros que a espontaneidade acarreta, sem se distinguir muito do que é feito por máquinas.

publicado às 12:08



Autores

João Villalobos e Luís Naves