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Pedaços do mundo e grãos de areia
A vida real dos novos camponeses é dramática. Alastra o fenómeno dos sem-abrigo; por todo o lado, a pobreza dos imigrantes, na sua maioria sem papéis e que se vergam e gastam em trabalhos penosos e mal pagos; sob as arcadas, começam a aparecer tendas, onde os mais miseráveis dos miseráveis se protegem do frio, mas nem essas tendas improvisadas os podem proteger da chuva; e como tem chovido! São às centenas os estafetas da Uber, numa roda-viva de bicicletas. Estas pessoas chegam do Sri Lanka e desconhecem a língua dos nativos; vivem em hostels turkish style, habitam silenciosamente nos meandros da sociedade, nunca fazem grande barulho, ninguém repara neles, a não ser pelo cheiro, quando se tornam sem-abrigo. A bolha mediática deixou de os ver, entretida a discutir temas fraturantes (questões de género, de raça, de identidade, direitos das minorias e culpas coloniais); a alta casta anda dividida em torno de minúsculas bizantinices, surda perante o tumulto da multidão desesperada que, lá fora, aguarda a abertura de uma frincha nos portões.