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A realidade? Qual delas?

por Luís Naves, em 01.12.24

Os escritores costumam dizer que se baseiam na realidade, mas ninguém lhes pergunta em qual delas. Um dos problemas do mundo contemporâneo está na extrema dificuldade em estabelecer a simples hierarquia dos factos ou distinguir o que pode ser palpável no meio da neblina das narrativas. A escolha da realidade é um problema sério da literatura: existe a opção simpática do conformismo, que dá acesso aos privilégios do mercado, ou a leitura subversiva que, pondo em causa as verdades da época, condena o escritor ao silêncio mediático. Estará o autor disposto a ver tudo ao contrário do que lhe exigem a busca da fama e o mínimo denominador comum da medíocre cultura popular? A incerteza do real é incompatível com as modas da literatura que desprezam a imaginação. O que mais vende é o realismo sem ambiguidade, por exemplo, a chamada auto-ficção, ou seja, a autobiografia à maneira de um repórter sem distanciamento, que é a impostura máxima, cheia de bons sentimentos. Também está na moda o fogo de artifício, frequentemente sem ideias, como se não houvesse técnica literária além do fluxo de consciência e da existência interior, as únicas que podem resolver sem esforço o problema da multiplicidade de realidades.

publicado às 12:51



Autores

João Villalobos e Luís Naves