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O Esplendoroso Declínio (4)

por Luís Naves, em 29.08.13

A transição

Com o fim da Guerra Fria, o jogo mudou muito para as superpotências, mas também mudou para os europeus ocidentais, que de repente deixaram de ser peões no campo de batalha entre duas ideologias.
O império soviético foi recebido em herança pelo antigo império russo, entretanto reanimado das cinzas. A URSS passou a ser uma curta perturbação histórica de 70 anos e a passagem de testemunho (ou recuo estratégico) é um processo ainda inconclusivo. Moscovo controla grande parte dos territórios que abandonaram a URSS, à excepção das três repúblicas bálticas, que de facto se separaram. Outras repúblicas reclamaram a independência, mas esta é limitada em todos os casos. No entanto, apesar de ter preservado parte significativa do seu antigo poder, sem a componente ideológica, a Rússia perdeu o anterior estatuto de superpotência.


 

A transição foi traumática para os russos, mas também foi difícil para os outros europeus. Após o colapso do bloco de leste, os países da CEE confrontaram-se com o vazio político na fronteira leste e, de forma mais perigosa, com o colapso da Jugoslávia, um país frágil que resultou das péssimas decisões diplomáticas dos Tratados de Versalhes e Trianon, em 1919, criadoras de uns supostos 'eslavos do sul'.
As guerras da Jugoslávia completaram processos de limpeza étnica que não tinham sido realizadas nos anos 30. O mundo assistiu, horrorizado, a conflitos que pareciam impensáveis “em sociedades civilizadas”, mas que no fundo reproduziam de forma crua situações que tinham sido banais duas gerações antes, incluindo o extermínio de minorias como judeus, ciganos e arménios, ou a expulsão dos derrotados, alemães, húngaros, polacos.
Em vez de ser um espaço de diversidade e de harmonia entre diferentes culturas, a Europa arriscava-se a ser afinal um conjunto de países etnicamente puros, cada um deles desprovido das suas antigas minorias culturais ou linguísticas. Seria o triunfo da ideia de um território e de uma nação conduzida por um único povo.
O estilhaçar da Jugoslávia reanimou o espectro da Europa que todos pensavam estar morta e enterrada. Era como experimentar na realidade um filme de zombies ou de vampiros.

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publicado às 19:07



Autores

João Villalobos e Luís Naves