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Pedaços do mundo e grãos de areia
Uma das marcas das sociedades desenvolvidas é o bom relacionamento do Estado com os seus cidadãos. Em Portugal, essa relação sempre teve graves problemas e os cidadãos são tratados como potenciais facínoras ou como débeis mentais que deviam agradecer a generosa protecção das autoridades. O Estado presume que está a lidar com pessoas desonestas: se alguém reclama, é certamente um malandro; se está a contas com a justiça, alguma maldade terá feito; se pede auxílio e não pertence às óbvias categorias de clientela política, então só pode tratar-se de um caso de abuso. Este sistema não é um falhanço de estado, mas algo que lembra a igreja do passado: omnipresente e omnisciente, metia-se em tudo e tratava de toda a gente, com arrogância e sentido de missão; o país era um convento, olhando para cada membro da congregação como um mortal pecador, a carregar a cruz da confiança cega e da infinita paciência.