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Pedaços do mundo e grãos de areia
A princípio, pensei que fosse um mito urbano ou uma teoria da conspiração, mas o caso desta cidade bastante grande num país distante tem intrigado os investigadores. A nossa equipa desembarcou no local por haver rumores inquietantes, mas as autoridades não facilitaram e a barreira da língua dificultou a recolha de dados. Algumas pessoas que falaram connosco estavam quase desvairadas e conseguimos recolher alguns raros testemunhos perturbadores. Diziam invariavelmente que ocorrera uma mudança durante a semana em que decorreu o confinamento espontâneo. De súbito, toda a gente começou a usar máscara, desconhecemos os motivos. Nos transportes públicos, nos empregos, nos restaurantes, na televisão, em todo o lado, eram poucos os que não usavam uma protecção das vias respiratórias e estas resistências provocaram sempre censura pública. Não havia sequer uma epidemia que o exigisse. Aquilo durou uma semana e, no final, houve uma espécie de calamidade. Como nos dizia uma destas testemunhas: "Quando eles tiraram as máscaras, eram outras pessoas. Não conseguia reconhecer os meus amigos e os membros da minha família. Todos tinham caras diferentes. Usavam os mesmos nomes, assumiam as mesmas tarefas, mas não os reconhecia. Pior do que isso, eles não me reconheciam a mim". Algumas vítimas foram diagnosticadas com alucinações extremas, houve também alguns doentes que fizeram loucuras, incluindo casos de violência. A nossa equipa médica internacional analisou cuidadosamente a situação e concluiu que a hipótese de todas as pessoas serem substituídas durante a semana em que usaram máscaras era demasiado extra-terrestre para ser sequer considerada. As alegações são impossíveis e propomos uma explicação alternativa: provavelmente, quem não se protegeu com máscaras foi atingido por algum vírus que provocou delírios, vendo rostos alterados em todos os outros cidadãos. "As pessoas mudaram todas, tenho a certeza, até as crianças são diferentes", gritava uma destas testemunhas, que teve de ser internada com fortes sedativos, "só eu fiquei igual ao que era". Este suposto vírus iludiu as nossas pesquisas e não foi identificado.
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