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Pedaços do mundo e grãos de areia
Se o mundo fosse dos hipopótamos, haveria piscinas por todo o lado. Veríamos grande quantidade de depósitos de água ocupados por estas criaturas, habitados pelos equivalentes de senhoras e cavalheiros a flutuar e a borbulhar, a conversar e a discutir, enfim, fazendo todas aquelas coisas que os hipopótamos fazem, da comunicação à política territorial, do rir e do chorar, da ocasional maçada ou vulgaridade. Seriam ouvidos constantemente os ruídos típicos de quem mergulha e de quem vem à superfície, chapinhando com algum estrondo e contentamento. Se o mundo fosse dos hipopótamos, as cidades seriam enormes quadrículas de piscinas azuis, cada uma com a sua família alargada destes herbívoros consumistas, família essa concentrada em afugentar invasores e manter o conforto aquático da água aquecida pela fermentação de resíduos em constante movimento. Só seria preciso arranjar comida com regularidade, em supermercados que não ficassem longe, pois estes animais não gostam de andar a pé grandes distâncias, já que sentem a pele a secar e os muitos quilos a prensar os glúteos proeminentes. Com inteligência, seria possível maximizar a vida sexual e a demografia, melhorar os divertimentos, sendo para isso necessário considerar a criação de piscinas alimentares para a produção em massa, sendo esta comida excedentária depois distribuída pelas unidades comerciais de bairro, podendo assim desenvolver-se uma civilização cujo único problema potencial seria o excesso de metano na atmosfera. Esse gás com efeito de estufa iria conduzir a alterações climáticas que provavelmente os cientistas hipopótamos considerariam até relativamente benéficas, porventura uma boa oportunidade para se expandir o alcance setentrional da construção de novas piscinas confortáveis e de novas vastas cidades hipopotâmicas. Seria então possível que, apesar da indolência natural da espécie, fosse desenvolvida uma filosofia e até uma forma de arte ou uma matemática, permitindo acesso aos himalaias do pensamento neste planeta.
imagem por inteligência artificial, Night Café