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Os cavaleiros

por Luís Naves, em 18.11.23

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A estalagem ficava na orla da floresta, dos pântanos e dos lugares de horror. Um dia, vindo do arvoredo, ouviu-se o tropel de cavaleiros. Contaram onze cavalos e, sobre cada um destes animais ferozes, um descomunal soldado de armadura. Vinham numa correria surda, espalhando lamas pelas bermas da vereda, envolvidos numa neblina fina que se agarrara às couraças. O cavaleiro com pendão e bandeira trazia as cores do senhor de Montalto, que defendia a fronteira, e que se sabia estar numa grande batalha no país inimigo. Os cavaleiros pararam na estalagem e desmontaram. Tiraram os elmos, descansaram as espadas; oito ficaram junto à bagagem, três descalçaram as luvas de ferro e, sem capacete, entraram na taberna iluminada pelo fogo tremente de uma lareira. Um deles falou, apontando para a figura principal: "o senhor conde está cansado, quer beber e comer". O nobre era jovem, pálido, com olhar de poeta. Sentou-se, pensativo, ladeado pelos companheiros, enquanto lhe serviam vinho e pão. "Dêem de comer aos homens lá fora", ordenou o conde de Montalto, num tom distraído. Os estalajadeiros saíram para cumprir o comando e foi então que se deu a magia: os homens lá fora tinham desaparecido na bruma que avançava, como se tinham evaporado os próprios cavalos, e a atenção assustada dos populares (quatro ou cinco cristãos foram testemunhas destes factos misteriosos) deu conta do novo cortejo de cavalaria que avançava um pouco ao longe, entre o nevoeiro espesso que a floresta respirava. Silhuetas de corcéis sem cavaleiro, ou assim parecia, a passo lento, e vinham dez a guardar o animal da frente, que no dorso trazia aquilo que aos populares pareceu ser um saco; mas quando correram para o segurar o animal, perceberam que trazia um cavaleiro morto agarrado à garupa, o cadáver do jovem conde que minutos antes todos eles tinham visto a beber na estalagem. Sangrado por feridas profundas, o olhar esvaziado de vida. Que sortilégio era aquele? Quando os camponeses correram para o interior da taberna, também os três cavaleiros tinham desaparecido. Ninguém, só a comida sobre a mesa e a lareira acesa a lançar sombras sobre as paredes.

Imagem de inteligência artificial, Night Café

publicado às 19:25


Autores

João Villalobos e Luís Naves