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Anulação de contrato

por Luís Naves, em 14.07.23

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Só queria romper o contrato, sentia-me enganado. Foi com essa intenção que entrei no antiquário de livros, que fica no bairro da Mouraria, a meio de uma rua que sobe, antes da ermida, numas escadinhas. É uma loja pequena, discreta, cheia de livros. Entrei, havia o habitual cheiro a mofo e enxofre, expliquei a coisa sucintamente: queria anular aquele contrato a que estava amarrado. Não me parecia justo.
"Não tem nada a ver com justiça", disse o livreiro, "usufruiu dos serviços, não há nada para rescindir".
"Mas o serviço não foi fornecido", disse eu, "isso é injusto".
"Não foi fornecido? Não é bem assim! Não comprou o número da lotaria que acabou por ser premiado?"
"Sim, comprei o número vencedor da lotaria".
"Então?"
"Mas fiquei pobre na mesma, exactamente no mesmo sítio na escala da pobreza".
"Fizemos a nossa parte, era o que estava no contrato, a sua alma em penhor pelo bilhete premiado nessa semana".
"Mas eu perdi o bilhete e não recebi o prémio", disse eu, sabendo que o argumento caia em saco roto.

 

publicado às 11:30


Autores

João Villalobos e Luís Naves