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Pedaços do mundo e grãos de areia
Os cínicos achavam que o casal era demasiado perfeito e que no interior daquele imenso encanto devia existir um problema qualquer. O facto é que toda a gente se submetia ao charme de Elisa e Carlos, ambos pintores, com vidas de sonho, sempre felizes e admiráveis. Toda a gente queria entrar no círculo dos seus amigos e eles deixavam, enfim, não há outra maneira de explicar, espalhavam alegria, contentavam quem estivesse à volta, enchiam as festas de amabilidade e beleza. Os quadros que pintavam eram sublimes, sobretudo os dela.
Não fui ao casamento dos dois, só os encontrei mais tarde, mas sei da sua história. Conheceram-se em Belas Artes e já na escola eram um par ideal. Elisa pintava freneticamente e os professores achavam que seria uma pintora de grande qualidade. O marido, Carlos, acabou o curso sem brilhar, não tinha a mesma intensidade, mas era extrovertido e manipulador das conversas, dominava facilmente as tertúlias.
Carlos era também mais rico do que Elisa, foi a sua herança que lhes permitiu a vida desafogada de dois jovens artistas, em casa esplendorosa numa aldeia da costa, onde havia paisagens de beleza, com luz, bosques, praias, falésias, cores, o mar. O sítio perfeito. Mantinham um apartamento na cidade e frequentavam grupos de intelectuais e artistas, enfim, uns mais desistentes, outros como eu, inebriados pela ficção de que podiam deixar as grandes obras do futuro.