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Espião em fuga

por Luís Naves, em 19.06.23

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O corpo mergulhou numa fadiga inexplicável. A súbita ideia de que cometera um erro e estava em perigo devia ter o efeito oposto, desencadear os mecanismos de alarme e a reacção para que fora treinado; já antes sentira a aproximação da catástrofe e actuara com frieza nessas circunstâncias, mas agora sentia apenas cansaço e desistência; a mola partia-se, em vez de saltar.
Reviu mentalmente os passos que dera. Fora tudo correto, desde o momento em que se aproximou do ponto de entrega do material. Normalidade, sem uma palavra desnecessária, os gestos cuidadosamente coreografados, mais parecera um passo de dança entre ele e o agente estrangeiro, ninguém podia ter visto nada de suspeito, a entrega perfeita, como nos livros, no meio da multidão, em plena rua, à vista de toda a gente: duas pessoas a moverem-se em direcções opostas, um pequeno choque, a passagem do pequeno pacote, sem falhas.
Depois, seguira o seu destino, parte planeada e parte improvisada. Primeiro, o metropolitano, três estações, mudança de linha, duas estações, rua, autocarro, percurso a pé no parque, ninguém à vista, levou tempo a sentar-se num café, observou à volta, havia uma estranheza, não conseguiu tranquilizar-se, o coração acelerado. Tinha sido seguido.

publicado às 12:08


Autores

João Villalobos e Luís Naves