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Pedaços do mundo e grãos de areia
Na literatura portuguesa existe um preconceito contra o conto curto e nas redes sociais a imaginação não é muito compreendida. Os livros de contos tornaram-se raros, mesmo os de autores estrangeiros. Os editores, na realidade, já nem sequer querem romances, pedem outro tipo de livro. Querem biografias, ensaios ou crónicas. Neste último grupo, procuram aquilo que não tenha fantasia associada, ou seja, crónica jornalística, em que os factos são sempre o mais importante e o escritor não deve efabular. Nos jornais e revistas literárias, domina o ensaio e a crítica. Ao contrário do que vemos em outros países, a literatura nacional nunca foi adepta do conto curto, embora Camilo Castelo Branco ou Miguel Torga tenham sido contistas exemplares. Há outros autores fortes no conto, como Aquilino, Sena, Cardoso Pires, Régio, Lídia Jorge ou Mário de Carvalho, mas não existe a abundância que vemos em outras literaturas, basta citar a brasileira. A escassa tradição que existia em Portugal está a perder-se definitivamente, talvez por desistência. O conto é uma boa forma de conquistar leitores e torna mais fácil seleccionar os escritores preferidos. Devia ser um formato popular, pois as pessoas dizem que não têm tempo para ler, mas quem não tem dez minutos disponíveis para ler um conto de dez páginas? Um romance médio, pelo contrário, leva pelo menos quatro ou cinco horas. Como explicar o preconceito? Será que os leitores não gostam e não compram? Não tenho explicação, apenas sei que nos privamos de uma parte eficaz da literatura e trocamos isso por romances esticados ao máximo, que por isso se tornam monótonos e chatos. Fazer render o peixe é coisa de pobres.