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Pedaços do mundo e grãos de areia
O regresso a esta publicação devia ser acompanhado de uma explicação, mas não me lembro do motivo de ter parado de escrever, foi talvez inércia. O mundo mudou muito nos últimos anos. Atravessámos uma pandemia que matou milhões e os confinamentos alteraram qualquer coisa de impreciso nas mentalidades. Muitas pessoas precisaram daquele trauma para reavaliarem as suas vidas, agora sabem que o tempo escorre depressa. Instalou-se na nova sociedade um clima de intolerância, triunfa a inteligência artificial, aumentaram as desigualdades, houve migrações em massa, tornou-se impossível dizer certas coisas e aceita-se com tranquilidade a denúncia dos comportamentos divergentes e da linguagem errada. O mundo mudou muito e ainda vai mudar mais, depois da guerra e da crise económica que nos ameaça. Estes não serão os novos anos 30, da grande depressão e dos totalitarismos, mas a mola do tempo estalou e recomeça a contagem para outra ordem mundial. As comparações que fazemos são sempre com 2019, o antes, o último ano de normalidade, por assim dizer, pois que tudo o resto é agora o afastamento em relação ao que existia, e que fica esquecido lá atrás. O rio selvagem da história acelerou nestes rápidos e leva-nos na corrente à solta. Só temos olhos para as surpresas que estão à nossa frente.