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Estado de insegurança

por Luís Naves, em 30.08.18

Na Europa Ocidental começou uma transição política que pode até ser o início de uma grande transformação. Esta mudança é alimentada pelo descontentamento de uma franja assinalável do eleitorado, a metade mais pobre da chamada classe média, que foi a parte derrotada na recente crise. Os motivos da insurreição são complexos e levarão anos a ser compreendidos, mas podem estar relacionados com o impacto de novas tecnologias, a contracção dos generosos sistemas de protecção social, a degradação dos serviços públicos, a insegurança física que muitas pessoas sentem nas próprias cidades e a pressão salarial dos migrantes. É fácil observar que cada um destes fenómenos tem maior efeito sobre pessoas mais pobres, as que vivem em bairros sociais ou as que dependem de empregos menos qualificados, a antiga classe operária, que os partidos de esquerda abandonaram. Em todos os países ocidentais, parte substancial da classe trabalhadora empobreceu, as fábricas mudaram de local e os novos empregos são mal pagos. A revolta que se designa como populista será a resposta destes eleitores à crescente insegurança, mas é também uma reacção a problemas concretos que as chamadas elites se recusam a reconhecer. Quando falo em elites, refiro-me ao conjunto de partidos tradicionais, burocracias e organizações, hierarquias académicas, grupos de influência empresarial, de intelectuais e vedetas mediáticas, ou seja, a bolha do topo, cuja narrativa da realidade rejeita qualquer argumento dos descontentes, desprezados como xenófobos, nacionalistas, irracionais, até como fascistas.

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publicado às 12:07


Autores

João Villalobos e Luís Naves