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Mitologia operária

por Luís Naves, em 26.12.17

A mitologia operária dos nossos sindicatos, forjada nas catacumbas do corporativismo nacional, enfrenta o vendaval das mudanças contemporâneas de forma curiosamente semelhante à que caracterizou outros tempos da nossa história, ou seja, inventando mitos quase ingénuos. No ensaio Labirinto da Saudade, Eduardo Lourenço escreveu sobre esta nossa mentalidade de Disneylândia, a propósito do Salazarismo, cuja ideia da «lusitanidade exemplar» serviu de base para a ficção oficial de «um país sem problemas, oásis de paz, exemplo das nações, arquétipo da solução ideal que conciliava o capital e o trabalho, a ordem e a autoridade com um desenvolvimento harmonioso da sociedade». A governar habilmente no curto prazo, o actual governo usa as mesmas referências nacionalistas e populistas, abusando igualmente daquilo que Lourenço definiu como a «relação irrealista que mantemos connosco mesmos». Num frenesim propagandístico, dizia recentemente o PM que «tivemos um ano muito saboroso», esquecendo-se por momentos dos incêndios mortais que incineraram vários concelhos.

 

publicado às 19:16


Autores

João Villalobos e Luís Naves