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A vedação

por Luís Naves, em 07.09.15

Segundo texto para Observador. Saiu melhor. Tentei explicar a dimensão do problema, as consequências internas e na Europa. Sobretudo tentei explicar o aumento rápido do número de refugiados. Tirei fotografias. Em Lisboa, pelo que leio, ninguém percebe a vedação (cuja não conclusão já custou a demissão do ministro da defesa). Não existe muro, mas uma cerca em arame farpado, em certos sítios bastante tosca. Nesta região da fronteira, em vez de entrarem por cem sítios diferentes, os refugiados entram agora por uma única linha férrea, com os polícias à espera num campo onde esta cruza uma estrada paralela à linha da fronteira. Isto permite concentrar os refugiados num único local de recepção, depois num único centro de registo. Dali vão em autocarros civis (fretados pelas autoridades) até campos de refugiados de onde são transportados para as estações ferroviárias onde embarcam para a Áustria, num único ponto de entrada. Sem isto, os migrantes entravam de forma descontrolada, por todo o lado, e estaria estabelecido um caos que beneficiava só os traficantes. Esta estratégia funciona, depende da vedação e o governo de Viktor Orbán tem 80% de apoio; ainda só encontrei uma pessoa que não concordava (Os refugiados deviam ser recusados) e que ouviu logo um comentário sarcástico. Há crescentes sinais de organização, mas a guerrilha continua, com momentos de grande desordem: em Roszke, os refugiados tentam escapar do campo de recepção e avançam pela estrada ou fogem para os campos de milho. A televisão húngara mostrou uma cena de loucos em Budapeste: um grupo de voluntários austríacos estava numa praça à espera de refugiados para os levar para a Áustria de carro. A nova modalidade de humanitários de tráfico humano.

publicado às 07:28


Autores

João Villalobos e Luís Naves