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Pedaços do mundo e grãos de areia
Há cidades mais literárias, locais que despertam a fantasia e que parecem palpitar como corações subitamente arrancados a corpos indefesos, num desvario sem fôlego. Lisboa é literária, como Nova Iorque, Praga, Paris ou Budapeste. Mas estes casos são raros. Não apetece muito inventar histórias passadas em Genebra ou Bruxelas. Talvez as pedras e as comunidades tenham também uma espécie de alma, à maneira das pessoas; talvez tenham um ciclo de existência (de nascimento, crescimento e decadência), mas ser ser exactamente vida, tal como a definimos; talvez sintam e pensem, porventura devíamos perceber a sua respiração. Há cidades onde é mais fácil imaginar a vasta circulação humana. Suponho que nesses locais exista uma estrutura corpórea que desliza e se transforma, num ciclo muito lento de marés. A imaginação liga-se mais facilmente à poderosa magia desses seres imensos, as cidades com identidade forte, na realidade tão poderosa que as próprias pessoas sentem o rumor que as distingue.
Baseado no excerto de um post antigo