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Pedaços do mundo e grãos de areia
As vidas falsas são como a realidade inventada: vemos o que queremos ver. No passado, havia as lendas de santos e de heróis nacionais, contadas de certa maneira em cada época, conforme os interesses de quem contava. Agora, que temos redes sociais cheias de vidas maravilhosas, a mitomania tornou-se um fenómeno comum, que de alguma forma define a modernidade. A tecnologia produz exércitos de inadaptados. O mundo muda sob os nossos pés. Sempre confundimos desejos com factos, sempre fomos vítimas fáceis da língua de prata destes alucinados, que nos enganam com a mesma facilidade com que voam os anjos, mas agora os mitómanos usam as redes sociais e são um modelo do tempo. As vidas falsas e demasiado perfeitas satisfazem a crendice secular, mas os meios de comunicação reforçam a indiferença. As democracias caminham para a eliminação do conflito, que é também a negação da política. A terceira globalização não acabou com a existência de Estados falhados, só que estes já não são retalhados por potências mais fortes, apenas abandonados à sua sorte. As fronteiras deixaram de contar para as finanças. Os mitos são outros: sucesso e aparência.