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Pedaços do mundo e grãos de areia
Revolutionary Iran, de Michael Axworthy, tem dado por estes dias para encontrar muita matéria de reflexão, devido ao que desconhecia sobre o Irão, mas sobretudo por encontrar tantos dados novos que desmentem ideias feitas. Esta história da República Islâmica mostra um conflito de rara violência, que os meios de comunicação ocidentais têm tratado com erros grosseiros. A percepção da opinião pública sobre aquela realidade foi manipulada, como aconteceu no passado durante a acção imperial de russos e britânicos para neutralizar o Irão. A leitura de Europe, The Struggle for Supremacy, de Brendan Simms, também serviu para desfazer vários equívocos. Segundo o historiador britânico, a história europeia é vital para compreender os conflitos dos últimos 500 anos, pois os eventos mais importantes giraram em torno de tentativas de domínio da Europa Central. A narrativa sobre as últimas cinco décadas é particularmente interessante. Fica a ideia de que se o projecto de União Europeia fracassar, haverá um projecto político alternativo a envolver as potências. A Revolução Islâmica no Irão parece desmentir a tese da luta constante pela supremacia na Europa, mas parte do actual conflito iraniano remonta ao fracasso de tentativas de modernização que ruíram devido à rivalidade colonial entre russos e britânicos. No início do século XX, as duas potências posicionavam-se nesse outro conflito eurocêntrico e o controlo de espaços coloniais não tinha qualquer preocupação com os interesses dos países alvo ou da preservação dos respectivos recursos. Isto criou antagonismos nunca resolvidos, que em 1979 vieram à superfície, criando o terreno ideal para uma revolução que foi igualmente um cataclismo na história.