Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Praça pública

por Luís Naves, em 13.11.14

Muitos têm cara de fracasso. Por aqui passam jovens barulhentos, a invadir o espaço alheio: estão-se nas tintas. Um avião voa completamente torto, traçando no ar uma curva lenta, a mostrar a barriga branca. Vem apressado um homem de curiosa figura, cabelo liso e ralo, cheio de brilhantina e penteado para trás, talvez por ser fadista. Vejo um velho encurvado, uma mulher bonita, o homem com pasta preta, a empregada do supermercado, da secção de legumes. Um raio de sol irrompe entre as nuvens e ilumina as fachadas, pintando os prédios com cores berrantes de amarelo, azul e rosa, mas o que mais fascina é o intenso verde dos choupos através da atmosfera límpida do final de Outono. Um rapaz grita ao telemóvel, enquanto caminha, apressado, e há um cãozinho obediente que encontra um amigo, ainda infantil, e fica nervoso. Passam grupos de namorados, estudantes, funcionários e domésticas. Alguém buzina ao longe, impaciente. É a hora de ponta, não há tempo a perder. Vejo desempregados sem ocupação, trabalhadores em fim de turno. A sorte não é igual para todos e há muitas caras de falhados.

publicado às 11:32


Autores

João Villalobos e Luís Naves