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As próximas eleições (10)

por Luís Naves, em 22.05.14

A publicação de um texto do ex-presidente Nicolas Sarkozy agitou a fase final da campanha francesa, mostrando que a discussão nos países centrais da UE tem características bem diferentes do nosso pseudo-debate fulanizado e paroquial. O que mais parece preocupar os franceses é a livre circulação de pessoas, o excesso de burocracia europeia e como realizar a aceleração da integração num núcleo duro de países. Ora, a opinião pública nacional continua alheada destas ideias, com os partidos a considerarem os temas demasiado esotéricos.

Segundo argumenta Sarkozy, a livre circulação no espaço Schengen deve ser revista, dependendo no futuro da harmonização das políticas de imigração. Ou seja, a revisão de Schengen obrigaria países como Portugal a restringir a sua política de imigração, limitando a entrada de estrangeiros, algo que só poderá contribuir ainda mais para o défice demográfico que nos arrasta para o fundo.

Admitindo que Sarkozy possui uma visão de futuro, a UE terá um reforço do eixo franco-alemão e até a eventual saída do Reino Unido. Enfim, a permanência na zona euro dependerá da aceitação de mais integração, ou seja, de regras uniformes no ambiente, na energia, no mercado laboral, na fiscalidade. Se alguém pensa que é possível ser mais competitivo através de baixos salários, incentivos fiscais para as empresas, dumping social ou ambiental, etc, talvez seja boa altura para rever os cálculos. A Alemanha entretanto já exigiu a todos os membros o rigor nas contas públicas e, no entanto, continua a ser possível ler autores nacionais que admitem a possibilidade do Tratado Orçamental ser revisto, embora não se vislumbre qualquer possibilidade disso acontecer.

 

 

 

publicado às 19:45

As próximas eleições (9)

por Luís Naves, em 22.05.14

Muitas análises que tenho lido sobre as próximas eleições omitem um importante aspecto do funcionamento da UE. Na realidade, e ao contrário do que afirmam soberanistas e eurocépticos, o processo de decisão reflecte os interesses nacionais, embora em amálgama e mínimo denominador comum, o que justifica a natureza complexa e labiríntica da política europeia, bem como a percepção de ineficácia.

Esta é a razão pela qual os Estados membros não abdicarão do seu privilégio de escolher o próximo presidente da Comissão, mesmo que a respectiva eleição seja contestada por uma parte do Parlamento Europeu e mesmo que essa escolha não espelhe exactamente a ‘vontade popular‘ da votação. Se Juncker ou Schultz forem eleitos, isso reflectirá o interesse da maioria dos países.

Na UE, as principais decisões políticas são tomadas pelos governos, reunidos em Conselho Europeu, onde cada país tem uma proporção de votos equivalente à sua proporção populacional. As minorias de bloqueio são difíceis de reunir, mas isso é sempre possível. Essas decisões entram depois num elaborado pipeline legislativo que envolve comissão, governos, parlamento europeu e parlamentos nacionais. Entre a discussão e a aplicação das normas costumam decorrer dois ou três anos, pelo que a fábrica de leis europeia tem actuação extensa, lenta e repleta de momentos em que os países de facto preservam o controlo. A excepção é quando há dinheiro envolvido e aí o chamado método comunitário tem sido substituído pelo intergovernamental, onde os países que passam o cheque tomam a decisão.

 

 

 

publicado às 12:12



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