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Pedaços do mundo e grãos de areia
Não queria escrever sobre a Hungria, por achar que não vale a pena tentar combater mitos tantas vezes repetidos, mas fiquei perplexo ao ler no Público uma notícia sobre as eleições legislativas húngaras, ainda por cima sendo o texto escrito por uma boa jornalista. O que se passa com o jornalismo português? A que se deve esta superficialidade militante? Pensei em escrever um comentário no jornal online, mas não consegui. Também não posso colocar aqu o link para o artigo, mas julgo que ele merece uma crítica.
O que me espanta não é apenas a repetição de banalidades que podemos encontrar em maus textos de opinião, mas erros factuais numa notícia. Por exemplo, devido a embirrações pessoais, o LMP (É Possível Outra Política) não integra a coligação de esquerda, que tem cinco formações, incluindo um partido liberal com sigla parecida. O LMP concorre sozinho e pode atingir os 5% mínimos para entrar no parlamento. Convém explicar que Gordon Bajnai não é centrista, mas tal como é dito liderou o último governo socialista; e convém lembrar que os socialistas perderam em 2010 por causa da corrupção e da falência do país e do FMI e da austeridade. E também da repressão de manifestações (mas, ao contrário do que é dito, estas eram pacíficas).
Quando os mitos são mais fortes, publique-se o mito. No caso da Hungria, torna-se impossível compreender as razões de um voto tão esmagador num partido, o Fidesz, que integra o PPE, sendo portanto parceiro do PSD e do CDS a nível europeu. Não se trata, pois, de uma qualquer formação extremista ou alucinada. Tem defeitos? É evidente, mas falem deles.