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Pedaços do mundo e grãos de areia
Os vencidos não têm voz, os derrotados não têm ilusões. Por isso escrevo no eterno rio do quase nada, por saber que as palavras deslizam para o esquecimento.
Conversas banais, grupos sussurrando, milhões que se cruzam nas ruas de uma cidade, e tudo desaparecerá um dia. As palavras que foram ditas e as pessoas que as ouviram, a língua das palavras e a civilização dessa língua, depois todas as gentes que existiram serão esquecidas, por já não haver pessoas para as lembrar, mas sim outros animais, que apenas terão recordação de si próprios, naquilo a que chamamos vida, que existirá em outra natureza, até que já não haja vida, nem planeta, nem sequer a estrela que nos deu calor, nem galáxias, nem nada. Então, perdidos os oásis, restarão corpos sombrios e vagabundos, até chegar a noite e a morte do tempo, e essa parte não sabemos ao certo, já que se trata de uma ideia demasiado terrível para uma pessoa que tenta falar, numa conversa vazia, parando de se fazer ouvir.
E fico a ver os outros, enquanto falam, e desenho estas palavras sem voz.