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Pedaços do mundo e grãos de areia
A ideia de realizar um referendo sobre a co-adopção revela um fascínio muito português pelo ‘inconseguimento’, que é uma espécie de nem-coiso-nem-sai-de-cima. A iniciativa está condenada ao fracasso e, por isso, faz parte de uma complexa distracção ou não passará de inútil tempestade que toda a gente vai esquecer depressa.
Neste caso, o Parlamento aprovou uma lei que permite o casamento de homossexuais, mas não extraiu o devido corolário. A partir do momento em que a lei existe, qualquer limitação aos direitos destes casais será discriminatória, incluindo a proibição da adopção, quanto mais a co-adopção. Isto devia ser evidente para todos os intervenientes, mas o PSD decidiu propor um referendo. Imaginemos que havia consulta (espero que não haja) e que a população decidia contra a co-adopção por casais homossexuais. Por um lado, o Estado dava o direito de casamento e, por outro, discriminava um grupo de cidadãos casados. Isso seria claramente uma insensatez. A decisão popular teria de ser alterada e isso era uma mera questão de tempo. O problema até se revela um pouco maior, pois proibir a co-adopção por casais homossexuais prejudica as crianças que já foram adoptadas.
Os políticos portugueses são extraordinários a discutir assuntos laterais, nem que para isso seja preciso inventar uma polémica que diga respeito apenas a algumas centenas de pessoas, num tema que não incomoda ninguém. Os casais existem e, em muitos casos, já têm famílias formadas, com crianças adoptadas por um dos seus elementos. Os deputados só têm de assumir as responsabilidades que decorrem das suas anteriores decisões. Tudo o resto é hipocrisia ou uma tentativa patética de sacudir a água do capote. Claro que há eleições em Maio e este tema é capaz de dar votos, mas não deviam estar a discutir o pós-troika e o que querem para o País do futuro?