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A tragédia da lealdade e o fim da magia

por Luís Naves, em 17.01.14

Alguns textos de outros autores dão-nos por vezes a sensação de que chegámos tarde a um determinado assunto e que ele pareceu ficar esgotado. É o caso deste post que li em Aefectivamente, o blogue de Fátima Laouini. A autora observa, e bem, que se perdeu a magia, que os jovens desconhecem o cinema clássico e suponho, mudam de canal quando passa um daqueles velhos filmes a preto e branco. O gosto em cinema é agora dominado pelo aparato visual, o artifício e a inverosimilhança.
Recentemente, vi algumas imagens de uma película moderna chamada Os 47 Ronin e aquilo deu-me voltas ao estômago, pois conheço o original de Mizoguchi dos anos 40, que embora seja um filme de samurai não tem combates. A ideia do realizador japonês estava bem longe de encenar efeitos especiais improváveis. Na minha leitura, o autêntico Os 47 Ronin conta uma história sobre a honra e o deficiente exercício do poder. É um conto subtil sobre o custo da lealdade. Desprezados pelos poderosos, que têm uma visão fútil da sua importância, os samurai dão o exemplo e pagam com a própria vida, aliás, sem poderem escapar a esse destino.
Sublinho ‘na minha leitura’. No cinema clássico, existia uma complexidade de conteúdo que deixou de existir ou que agora apenas existe no excesso de forma. Nos melhores filmes antigos, ficamos a pensar na motivação das personagens e na intenção dos autores. Isso desapareceu inteiramente dos melhores filmes contemporâneos. Hoje, a experiência do cinema é igual à do fast-food, ficamos de barriga cheia mas não pensamos mais nisso. Por outro lado, no cinema de antigamente contavam-se histórias e estas tinham forte conteúdo literário. Agora, temos muitas vezes o enredo como simples fio condutor entre cenas, ao serviço das vedetas e, muitas vezes, contendo erros de construção que o impacto visual apenas consegue minimizar. E esta linguagem é tão diferente da anterior que as pessoas deixaram simplesmente de compreender as obras antigas.

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publicado às 19:28



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