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O Esplendoroso Declínio (6)

por Luís Naves, em 13.09.13

No seu livro Breve História do Futuro, publicado em 2007, o francês Jacques Attali apresentava alguns números sobre o declínio relativo da Europa: “De 1980 a 2006, o PIB da Ásia quadruplicou, o da China e da Índia triplicaram, o da Europa passou apenas para o dobro”. Dito desta forma, parece impressionante, embora em PIB per capita a história seja diferente. A tese do rápido declínio europeu tem tido inúmeras vagas, mesmo anteriores à Primeira Guerra Mundial, quando os números diziam o inverso e os impérios europeus exploravam sem limitações os seus vastos domínios coloniais.
Por culpa própria, a Europa mergulhou entre 1914 e 1945 numa longa série de conflitos que destruíram a sua supremacia. Depois, durante a Guerra Fria, enquanto os impérios se desmantelavam, a Europa dividida foi remetida para os segundos violinos. As duas superpotências ditavam a política.

 

A literatura sobre a queda dos europeus é quase inesgotável, mas recentemente a tese do declínio ressurgiu em força, mesmo antes da crise financeira internacional, período que no caso da UE foi antecedido por vários anos de crescimento económico decepcionante. É inegável que na última década, a Europa perdeu peso económico relativamente a outros blocos, mas geralmente estas ideias são acompanhadas de recomendações para o futuro, por exemplo, a necessidade de criar uma federação europeia, ou exactamente o seu inverso. No passado, os declinistas defenderam as políticas imperiais ou do Estado mais forte. Os pessimistas evitam certos aspectos da questão e simplificam outros. Por exemplo, alguns autores usam uma caricatura conveniente para omitir aquilo que pode ser interpretado como força cultural: a Europa transformou-se num simples museu.

 

Os números variam, conforme as fontes ou os métodos de contabilização. Usando dados do FMI, da ONU e da União Europeia, o avanço da China nas últimas três décadas é na realidade impressionante. A ponto de algumas projecções para 2025 mostrarem a economia chinesa como a maior do planeta, a ultrapassar a Europa algures em 2021 ou 2022, algo que apesar de tudo não parece provável: segundo o FMI, a fatia chinesa da economia mundial em 2012 era ainda de apenas 11,5%, metade da proporção da União Europeia (23,1%).
Estatísticas americanas (departamento da agricultura), com outro método de avaliação, mostram que entre 2000 e 2010, os EUA passaram de uma fatia da economia mundial de 28% para 27%, enquanto a Europa declinou de 31% para 28% e a China subiu de 3,5% para 7,1%. As estimativas da mesma entidade mostram a parcela americana praticamente constante em 2020, no primeiro lugar, em 26%, e a Europa com nova queda, para 24%. A China mais do que duplicará nesta década, para uma proporção de 15% na economia mundial.
 
O declínio europeu relativo surge de forma nítida em todos os cálculos. É também mais rápido do que o americano. Muitos economistas culpam a rigidez do Estado social e sublinham a rápida desindustrialização da Europa como causas principais do fenómeno. O envelhecimento da população, o desemprego crónico elevado e as leis laborais protectoras do emprego também aparecem frequentemente nos debates.
O declínio económico da Europa transformou-se num tema obsessivo depois do início da crise financeira e das dificuldades na zona euro. A ideia espalhou-se e foi aprofundada por numerosos autores, julgo mesmo que passou integralmente para a opinião pública, provavelmente a contribuir de forma subtil para o estado de depressão colectiva em que vivemos.

publicado às 11:44



Autores

João Villalobos e Luís Naves