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Vitória amarga

por Luís Naves, em 24.09.17

As sondagens à boca das urnas apontam para uma surpresa relativa nas eleições legislativas alemãs: o resultado da grande coligação no poder é o pior de sempre; somados, os dois grandes partidos que dominaram durante mais de meio século a vida política da República Federal terão pouco mais de 52% dos votos, menos 15 pontos percentuais do que conseguiram em 2013. A extrema-direita populista entra no parlamento quase a triplicar a votação anterior, quando falhou por um triz a barreira dos 5%. A fragmentação partidária obrigará a chanceler Angela Merkel a uma coligação potencialmente instável, que exigirá longas negociações, a chamada coligação Jamaica, que incluirá cristãos-democratas, liberais e verdes. A confirmarem-se os resultados (e falta o cálculo essencial de número de deputados), a Alemanha terá um governo complicado, com dois partidos minoritários que discordam entre si em numerosos assuntos (julgo que não haverá deputados suficientes para um governo só com CDU e o FDP, mas saberemos mais logo). FDP e Verdes são próximos em muitos temas europeus, mas terão opiniões diferentes na política de imigração, nas questões económicas e na definição da futura União Europeia.
As sondagens falharam, os analistas e os políticos subestimaram o descontentamento popular, a imprensa deixou de entender os verdadeiros sentimentos da opinião pública. A bolha em que vivem as elites começa a ser perigosamente distante da realidade em que vivem os desfavorecidos. Na sondagem à boca das urnas que a BBC está a usar, a CDU terá apenas 32% e o SPD, com 20%, terá sido cilindrado. O voto de protesto (AfD e Linke) soma um em cada quatro, o que parece uma enorme proporção para um país em boa situação económica. Nos últimos meses, houve entre os comentadores uma espécie de euforia de europeísmo desenfreado. Nessa narrativa, estava tudo a correr maravilhosamente, sob a batuta da nova líder do mundo livre; e ps indicadores económicos demonstravam que era finalmente possível avançar com grandes utopias de federalismo europeu. Todos se esqueceram dos eleitores. Afinal, o descontentamento dos perdedores da globalização não desapareceu, há muitas pessoas que recusam as ideias internacionalistas e que olham com desconfiança para o que consideram ser a diluição da sua identidade. Será interessante olhar para a reacção dos mercados, amanhã, se começa ou não a instalar-se algum nervosismo.

publicado às 20:00


1 comentário

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De Blondewithaphd a 25.09.2017 às 16:49

Esperado mas não menos assustador e não menos "inesperado".

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Autores

João Villalobos e Luís Naves