Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Ruptura e dessacralização

por Luís Naves, em 01.12.16

O nosso mundo é dominado por dois fenómenos que correm em paralelo, a ruptura e a dessacralização. Vemos a tendência da ruptura em notícias diárias sobre rebeliões populistas nas democracias, em delirantes projectos para criar regimes teocráticos ou ainda nas cenas caóticas envolvendo migrações em massa: no fundo, as sociedades contemporâneas não têm soluções para as ‘selvas’, para o ocasional demagogo ou para os delírios homicidas dos fanáticos. Todos estes exemplos estão ligados a mundos em extinção, que não têm resposta para o que aí vem. A dessacralização é menos óbvia, mas está presente na linguagem politicamente correcta que cada vez mais trava as discussões, está também presente na forma algo estranha como instituições conservadoras acompanham os tempos (tentando adiar o seu declínio) surpreendendo os próprios críticos com a ousadia das inovações. A dessacralização garante um lugar na linha do tempo, para além de existir a agressiva corrida à criação de impérios que vão dominar ainda mais o futuro. Por razões tecnológicas, não haverá sobrevivência possível para quem não tiver massa crítica. O que se aplica, aliás, ao jornalismo, à literatura: acabou a era dos autores obscuros que vendiam meia dúzia de exemplares e iam ganhando lentamente a sua fama; hoje, sem garantir escala, ninguém é publicado. Assim será com a televisão, com o teatro e o cinema. Isto aplica-se a todas as elites que dominaram o passado, até em descobertas científicas, que nunca estiveram tão dependentes do dinheiro que permite financiar experiências complexas.

publicado às 20:11



Autores

João Villalobos e Luís Naves