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Estado de negação

por Luís Naves, em 04.06.15

O país mediático é uma terra mítica. Uma recente sequência de notícias que vi mostrava o estado de negação: a primeira notícia era sobre vinho e alguém dizia que Portugal tinha os melhores vinhos do mundo; a segunda era sobre azeite e alguém dizia que o nosso azeite era o melhor do mundo; a terceira era sobre pastéis de bacalhau e alguém dizia que tínhamos os melhores pastéis de bacalhau do mundo. Somos aparentemente os melhores saloios do mundo. Os governantes e os que aspiram ao poder já só falam numa língua incompreensível. Os intelectuais que os embalam contam histórias delirantes sobre um país que não existe e nunca existiu. A política não pode discutir os problemas autênticos, pois isso implica perder eleições. A discussão sobre a segurança social, para citar um exemplo, passou para depois da votação e só existe ali uma certeza: os eleitores serão enganados. A obsessão do futebol tornou-se doentia. Os protagonistas já só querem saber do dinheiro que ganham e dos carros espaventosos que guiam, mas os noticiários estão repletos de relatórios sobre o aumento das desigualdades e as diferenças salariais nas empresas. Em toda esta pequena pornografia portuguesa, a hipocrisia exclui todas as ideias construtivas. Só há ideias contra: os clubes afirmam-se através da anulação dos clubes adversários, os partidos não reclamam as melhores ideias, mas as menos más. Os eleitores passaram a ser uma abstracção e os adeptos deixaram de ter qualquer importância.

publicado às 19:58


2 comentários

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De Helena a 07.06.2015 às 20:10

Concordo em absoluto.
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De João Carlos Reis a 08.06.2015 às 11:07

Prezado Luís,
como alguém dizia, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa"... passo a explicar-me...
Lá por sermos os melhores saloios não equivale a dizer que não tenhamos os melhores vinhos, os melhores azeites ou os melhores pastéis de bacalhau, entre outras coisas. Lá por sermos os melhores saloios não equivale a dizer que não tenhamos dominado meio mundo durante cerca de dois séculos, etc., etc., etc..
O que se passa é que infelizmente somos saloios (eu sou-o de facto pela zona geográfica onde nasci, não pelo seu significado figurado) por não impormos (como os outros fazem) a nós e aos outros aquilo que de melhor temos e fazemos e, em vez de fazermos isso, fazemos o choradinho do coitadinho em vez de falarmos de igual para igual com os outros... e depois queixamo-nos que os outros não nos respeitam...
Também infelizmente somos saloios ao votarmos em "pessoas" que são e fazem aquilo que descreve. Eu só fui enganado nas duas primeiras eleições em que já tinha idade para o fazer, pois a partir daí só tenho votado num partido que não tem assento parlamentar. Logo, os eleitores só são enganados se quiserem.
Quanto àqueles que pavoneiam as suas riquezas (comprando produtos caríssimos importados) em vez de as utilizarem para o enriquecimento da indústria nacional (exigindo inovação e qualidade, como é óbvio, e como também muitas vezes existe) não contam de modo algum com a minha simpatia.
Também quando a esmagadora maioria dos nossos empresários e os nossos governantes deixarem de ser saloios e comezinhos (pensando só no mercado Nacional) e se voltarem para a exportação, então poderemos começar a pensar noutros níveis de vida... não é por acaso que as melhores (em termos de salários e/ou condições e/ou motivação de trabalho) empresas portuguesas que resistiram à crise são, na sua grande maioria, aquelas cuja produção é maioritariamente para exportação... também não é à toa que nenhum dos países cujo nível de vida ambicionamos vive única e exclusivamente do mercado interno, bem antes pelo contrário...

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Autores

João Villalobos e Luís Naves