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Coisas do Nobel

por Luís Naves, em 07.02.16

Este post de Francisco José Viegas levou-me a procurar informação adicional, aqui, onde para meu espanto pude descobrir que os escritores portugueses mais vezes nomeados para o Prémio Nobel da Literatura, até 1964, foram os poetas António Correia de Oliveira (15 nomeações) e Maria Madalena de Martel Patrício (14), dois nomes cuja existência desconhecia. Há quem se admire de nenhum português ter ganho este prémio antes de 1998 (quando venceu José Saramago) e julgo que isto diz toneladas sobre a nossa menoridade cultural. Os outros países queriam ganhar, nós evitávamos.

A leitura, 50 anos depois, das justificações do comité e das listas curtas de candidatos, é muito instrutiva sobre a forma como mudam os gostos, havendo casos de autores que no seu tempo são mais ou menos incompreendidos, outros nitidamente sobre-avaliados. O factor sorte parece jogar um papel decisivo.

Depois, há a contaminação política dos prémios, como se pode ler no post. Mikhail Cholokhov fora amigo pessoal de Estaline e um comunista feroz que participou na Guerra Civil Russa. Alexander Soljenitsine acusou Cholokhov de plágio e há teorias de que o manuscrito de O Don Tranquilo teria sido roubado a um oficial branco morto em 1920, um tal Fiodor Kriukov. As provas são circunstanciais, existe um manuscrito completo, do punho de Cholokhov (que podia ser cópia, já que não há manuscritos intermédios), mas a suspeita faz algum sentido, tendo em conta que o autor nunca mais escreveu algo que se aproximasse da obra-prima inicial. Os primeiros volumes de O Don Tranquilo surgiram antes do autor completar 25 anos, ou seja, quando o autodidacta Cholokhov seria demasiado novo para conseguir tal resultado artístico, revelando maturidade e fôlego que não estariam ao alcance de uma pessoa tão jovem e que não escreveu mais nada de jeito.

publicado às 17:00


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Autores

João Villalobos e Luís Naves