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As pessoas não mudam assim tanto

por Luís Naves, em 27.11.15

Encontrar por acaso gente vagamente conhecida torna-se cada vez mais um incómodo. Não falo dos amigos, mas dos conhecidos que não vejo há muito tempo. Estou a ficar misantropo, talvez, ou chato. Tenho interesse pelas pessoas e os seus dramas, tudo isso é a matéria-prima de quem queira observar o mundo, mas tornou-se penoso falar de mim, explicar as rotinas de uma vida sem história, responder às perguntas retóricas que não desejam esclarecimento, explicar a olhares cépticos que não se passa nada, que não há novidades. As pessoas não mudam assim tanto, digamos assim, mantêm-se imunes às pequenas convulsões do quotidiano, como aliás acontece com os corpos, que são relativamente indiferentes às oscilações do tempo, à chuva miudinha, ao calor mais ou menos estável da Primavera, à tendência para o frio de um Outono atrasado. Colocamos um casaco e, se chove estrondosamente, abrigamo-nos no umbral de uma porta, até passar a tempestade, mas isso é encarado como normal. Assim fazemos de forma automática com as coisas menores que se passam à nossa volta, quase sem darmos por isso, sem ligarmos muito, sendo difícil explicar em conversa de circunstância que dessa forma vai a vida, à maneira de um tapete rolante que se move sob os nossos pés e que nos obriga a dar à perna, acelerando o passo, para ficarmos exactamente no mesmo sítio.

publicado às 00:46


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Autores

João Villalobos e Luís Naves