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A realidade que era impossível

por Luís Naves, em 23.01.14

O governo conseguiu um défice orçamental de 4,4% em 2013. Lembram-se dos analistas que há um ano diziam ser impossível cumprir a meta de 5,5% acordada com a troika? A produção industrial está a subir e a balança de transacções tornou-se positiva. O desemprego parece baixar, há mais poupança e consumo, a bolsa mostra um comportamento surpreendente, os empresários dizem-se optimistas e as exportações aumentam.
Claro que as boas notícias coincidem com a continuação de cortes nos rendimentos dos trabalhadores e nas pensões. Os sacrifícios não acabaram e os portugueses têm todas as razões para descontentamento. Todas as razões e mais uma: foram enganados pela retórica dos partidos da esquerda. Afinal, a estratégia da troika fazia sentido e o programa de assistência podia funcionar.
A crise dura há cinco anos e afectou a vida de toda a gente. Durante década e meia, foram adiadas reformas importantes e mantidas estruturas que travavam a competitividade do País. O modelo estava errado e bateu na parede em 2008. Portugal entrou em pré-falência, atrasou o pedido de resgate e teve de cumprir um duríssimo programa de austeridade que terminará dentro de pouco mais de uma dezena de semanas. O País que resulta deste período difícil será diferente do anterior, será mais competitivo e menos iludido com falsas promessas. O orçamento começa a estar equilibrado, a dívida começou a baixar e as reformas estruturais que a troika nos exigiu, no essencial, estão feitas ou lançadas.
Apesar disto ser cada vez mais visível, a esquerda continua a dizer que os sacrifícios foram desnecessários e inúteis, que a situação é desesperada e que não haverá futuro se não abandonarmos este caminho. Mas qual é a alternativa que propõe? Outra vez a falência? Como é possível que os partidos da esquerda insistam em querer bater com a cabeça na parede?

publicado às 11:01


7 comentários

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De l.rodrigues a 31.01.2014 às 14:32

Não diria essas coisas sobre o post. Sobre o parágrafo, sim.
Como é que pode chamar boas notícias às mesmas coisas com que dá razao aos portugueses para sentirem descontentamento?

Toda a política económica da gestão desta crise desde 2009 está errada, tirando alguns gestos parcos e pouco convictos do BCE. Um governo que governa assumidamente para empobrecer os seus compatriotas, e clama sucesso, não pode esperar que as suas vítimas se associem em celebração àquilo a que chama vitórias.
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De Luís Naves a 31.01.2014 às 20:31

Luís, talvez o meu post não seja suficientemente claro.
As boas notícias são referidas no parágrafo anterior ao que considerou esquizofrénico. Há sinais de recuperação económica (estabilização do desemprego, ligeiro crescimento, aumento das exportações, queda nas taxas de juro da dívida).
Os motivos de descontentamento persistem e são consequência do ajustamento nas contas públicas e do programa de reformas estruturais, imposição da troika após o resgate, que por sua vez foi uma consequência inevitável de erros políticos que levaram o país à pré-falência. O resgate podia ter sido evitado em 2011? Não. Havia outra forma de cumprir os termos do acordo com a troika? Não. Qual era a alternativa? a saída da zona euro.
Nestes dois anos e meio, a esquerda criou entretanto uma narrativa política que fez desaparecer os erros anteriores à pré-falência e que, por artes mágicas, tem feito desaparecer o próprio resgate e as suas exigências. Assim, toda a austeridade se tornou aberrante e absurda. Para quê tantos sacrifícios? Para nada, pois o ajustamento está condenado ao fracasso.
Ora, a partir do momento em que surgem boas notícias no plano económico, torna-se evidente que o programa da troika pode funcionar (ao contrário do que diz a esquerda). Afinal, o memorando terá salvo o país da bancarrota, que essa, sim, seria mil vezes pior do que cumprir este programa.
É esta a lógica do post e o sentido de muito daquilo que tenho escrito por aqui. Julgo que, por estas razões, a esquerda terá de mudar de discurso em breve.
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De Luís Naves a 31.01.2014 às 20:40

Como sugere no seu comentário, o empobrecimento dos portugueses não é consequência de um ajustamento imposto pelos credores, mas um objectivo em si. Dito assim estamos a ser governados por loucos furiosos que têm de ser hospitalizados. Trata-se de uma política claramente insensata. Mas como é que se aguenta esta narrativa se o empobrecimento parar?
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De l.rodrigues a 03.02.2014 às 14:03

Terá que parar algures. Mas simples paragem do empobrecimento não passaria a justificá-lo.
Quantos anos de crescimento anémico a pagar uma dívida insustentável serão precisos para recuperar a riqueza e capacidade produtiva e criativa desbaratada?

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Autores

João Villalobos e Luís Naves