De José C. M. Velho a 23.12.2013 às 20:39
Este artigo está repleto de incongruências. Para começar dizer-se logo à cabeça que “o Estado se tornou mais débil e que os pilares da nossa sociedade têm enfraquecido” não só constitui uma falsidade como constitui uma falta de visão inteligente sobre a realidade. O Estado e os pilares tradicionais não estão enfraquecidos, estão diferentes e essa diferença só por si não tem que significar enfraquecimento, a não ser aos olhos de alguém do tempo da outra senhora que gostava de ter mão pesada sobre tudo e sobre todos. De seguida afirma que “as pessoas estão a abandonar a religião”, querendo com isto dizer que até neste aspeto se verifica o enfraquecimento mencionado, o que constitui novo erro e falsidade, pois é precisamente nesse abandono da religião que residirá uma evolução da Humanidade para um novo patamar sem o peso do pó e das trevas que se arrastam desde a ignorância pré-histórica com tais crenças em seres fantásticos, como os dragões, sejam eles terrestres ou extraterrestres. Afirma que “as famílias são hoje pequenos resumos daquilo que foram no passado”; mais uma afirmação vinda do fundo dos tempos da outra senhora; o autor do texto gostaria de continuar a ver aquelas grandes famílias oriundas das grandes mães parideiras e, como não vê isso hoje, pelo contrário, assiste à escalada social das mulheres, espantado, como se fossem homens e com eles concorrendo, como se fossem homens, tendo direitos iguais, como se fossem homens, é o desmoronar de todas as suas crenças e conceitos acimentados há muitos anos. Conclui o primeiro parágrafo afirmando que “em tempos difíceis devia aumentar o altruísmo mas vemos sobretudo sinais de consumismo e de intolerância” tal afirmação conclusiva constitui de novo um olhar errado sobre a realidade, uma vez que é sabido de todos o quão altruístas têm sido os portugueses, atingindo records de dádivas em todas as campanhas de solidariedade, refira-se como simples exemplo as do Banco Alimentar; os portugueses mesmo sem poder dar, ainda assim dão e se não dão mais é porque não podem. O facto do autor do artigo/blogue ter ido a um shopping e ter ficado impressionado com o consumismo que verificou não lhe dá o direito de generalizar e afirmar que os portugueses são consumistas, aliás e se o são nesta época, fazem-no com o claro propósito de dar; isto é, quando consomem como loucos estão a querer fazer alguém feliz, pois aquilo que compram não se destina a si próprio mas a outro a quem querem dar esse prazer.
Analisado o primeiro parágrafo só nos resta concluir que a deturpada visão desta mentalidade acimentada no passado não é capaz de realizar qualquer comentário mais sobre o Mundo, pelo que o que segue no artigo fica logo prejudicado por esta constatação. Ainda assim, vejamos: no resto do artigo relata a ocorrência do Pingo Doce em que numa ação inédita algumas pessoas acorreram a tal supermercado reclamando para si o mesmo tratamento que pomposamente se gabara o tal supermercado de haver realizado para com um indivíduo. Classifica tal ação como “ideia tão desvairada”, “gestos intransigentes de movimentos mal pensados”, para questionar: “Que delirante problema pode existir na oferta de um cabaz de Natal a um desempregado?” e, sem responder à questão, conclui que “no fundo, é visível entre nós o triunfo do egoísmo e da hipocrisia”. Esclarece de seguida que “Os egoístas e os hipócritas choram sempre por sacrifícios que não fazem, desdenham oportunidades que não estão ao seu alcance, falam em nome alheio e ficam satisfeitos com a própria estupidez. Neste caso, foram contra a caridade e ficam bem com outros, os do politicamente correto que são geralmente incorretos, os da ética que nunca a praticaram e os cheios de verdades inconsequentes que só dizem mentiras”, assim concluindo o artigo.
Deveria ter respondido à questão colocada e se o houvesse feito poderia ter-se apercebido que de facto não existe um problema mas vários na tal oferta do cabaz. Primeiro: o tal supermercado pretendeu retirar proveitos publicitários da sua aparente generosidade e esta aparente generosidade é falsa porque surgiu como reação da iniciativa do indivíduo que lá foi e não como iniciativa própria do supermercado. (atingido o limite de carateres, continua no comentário seguinte)...