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Vertigem

por Luís Naves, em 31.05.14

Não entendo esta atracção pela vertigem que a classe política portuguesa exibe de forma tão irracional. O resgate durou três anos e acabou há duas semanas e já se multiplicam os sinais de que a elite nacional pensa em regressar de imediato à falta de juízo que nos levou à falência. O País entrou ontem numa crise política que termina simbolicamente o período de ajustamento, exactamente um ano depois de ter ocorrido outra crise, que acabou simbolicamente com todas as reformas.

Portugal tem desequilíbrios orçamentais crónicos e o motivo é sempre o mesmo: o dinheiro do Estado costuma ser apropriado por interesses especiais e por clientelas cujo controlo é difícil. Daí os ciclos de expansão e estoiro. Pela mesma razão, Portugal é um País relativamente imune a reformas e que resiste às mais esforçadas tentativas de sair do pântano. Durante os três anos de ajustamento, as clientelas políticas foram colocadas no congelador e foi possível equilibrar as contas públicas e realizar reformas estruturais que limitaram as fatias do bolo orçamental desviadas por grupos. É aliás um dos grandes problemas deste governo: os interesses especiais foram afectados e sofreram prejuízos, as corporações atingidas nunca deram tréguas e não perdoam.

A decisão do Tribunal Constitucional de chumbar os cortes nos salários dos funcionários públicos repõe alguma da ordem anterior e vai provavelmente ser compensada por um aumento de impostos que penalizará sobretudo os mais pobres (não podem fugir a uma proporção fixa de consumo, pelo que uma maior porção do seu rendimento irá para o IVA).

 

 

 

publicado às 12:15


Autores

João Villalobos e Luís Naves